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Sexta-feira, 26 de abril de 2024

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Sem água na torneira, moradores da segunda maior cidade de MT recorrem a poços para necessidades básicas

Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto

Sem água na torneira, moradores da segunda maior cidade de MT recorrem a poços para necessidades básicas
Enquanto grande parte do Brasil se depara somente agora com a falta d’água causada pela crise hídrica, os moradores de Várzea Grande, segunda maior cidade de Mato Grosso, não se lembram da última vez que receberam água na torneira com regularidade. Com população estimada de 287 mil pessoas, os residentes da Cidade Industrial, que fica na região metropolitana de Cuiabá, já viram diversas administrações passarem pelo poder, sempre com as promessas não cumpridas de sanar o problema.


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Morador do bairro Jardim Itororó há três anos, o professor Sebastião dos Santos Brum, 54 anos, divide a residência com mais cinco pessoas. Além de pagar a fatura mensal cobrada pelo Departamento de Água e Esgoto (DAE), ele precisa comprar água mineral para beber. São  cerca de 15 galões de 20 litros comprados a cada 15 dias. 

“É um caminho sem saída. A gente não vê resolver o problema de imediato, que seria essa entrega do caminhão, ele é demorado, esse serviço provisório. E a gente também tem uma certa frustração a longo prazo, pois você não vê uma solução. Pelo menos a gente não vê uma grande obra aqui nessa região, para atender essa demanda - São Mateus, Eldorado, toda essa região é muito grande. Esse ano não tem solução. O ano que vem tem? E o outro? Por quê? ”, questiona.



Segundo o servidor municipal, neste período de seca são mais de 20 dias esperando pelo caminhão pipa. Em dias com muitos acionamentos, o DAE costuma receber até 700 pedidos.

Como alternativa, Sebastião precisou improvisar um jeito de captar água da chuva. O professor só não fica totalmente sem água porque tem um poço artesiano no quintal de casa, prática comum dos moradores da cidade. O professor consegue retirar cerca de 30 litros por dia do poço.



Sebastião é um dos moradores que mantém cadastro no DAE mesmo sem receber água na torneira. Em checagem in loco no bairro foi possível perceber que muitos vizinhos nem sequer fazem a instalação do cavalete de água, pois sabem que ela não chega.

“Todos os quintais têm uma ponta de cano azul, que é para trazer água da rede para as casas. Só que não vem água e as pessoas nem se importaram em instalar cavalete”, conta.



O DAE é fruto da municipalização do serviço, antes ofertado pela Companhia de Saneamento do Estado de Mato Grosso (Sanemat). O presidente, Carlos Alberto Simões de Arruda, afirma que o principal objetivo do Departamento é aumentar o volume de água produzido. Ele justifica que Várzea Grande tem crescido mais que as outras cidades do país, dificultando o acompanhamento. 

“O IBGE aponta que as cidades do Brasil crescem 1,6 % por ano. Várzea Grande cresce 4,5,6 até 8% ao ano. É um crescimento muito grande acima da capacidade do município em fazer esse acompanhamento”, diz.

Na campanha eleitoral de 2020, o atual prefeito usava o problema de falta d’água como um dos motes de sua campanha. “O prefeito Kalil foi eleito para resolver o problema de água e é isso que a gente está fazendo com aumento o volume de água produzido, nós três estações no planejamento”, pontua.

Kalil é a continuidade da gestão de Lucimar Campos, esposa do senador Jayme Campos, que também foi prefeito da cidade. 
A família Campos faz parte da história política da Cidade Industrial e os nomes de seus membros estão espalhados por avenidas, residenciais e estádios
A família Campos faz parte da história política da Cidade Industrial e os nomes de seus membros estão espalhados por avenidas, residenciais e estádios.

“Várzea Grande tem cerca de 300 mil habitantes. Ligações ativas quando chegamos tínhamos 82, agora temos 86. Nós estamos inserindo muitas ligações que não estavam na base cadastral. Temos ainda entre 25 a 40 mil ligações que estão fora da base cadastral, que são as chamadas ligações clandestinas”, acrescenta.



Carlos Alberto afirma que vários fatores influenciam no problema de água de Várzea Grande, como por exemplo a força de trabalho de 300 funcionários para atender toda cidade. Sobre a regularidade de envio de água, o presidente afirmou que isso depende da região.

“Aqui nesse bairro [Jardim Potiguar] é todos os dias. Aqui é um lado privilegiado. Se você for para o lado do Jardim Imperador, 24 horas. Se você for para o Ipase, dia sim, um dia não. Se você for com Costa Verde, dia sim, dois não. Se você for para o 23 de Setembro, onde vai ter a outra estação, é um dia sim, dois não. Então, a intermitência é que mata o sistema de abastecimento. Isso é fruto da falta de água no sistema”, afirma.

O Ranking do Saneamento Básico, divulgado pelo Instituto Trata Brasil, em parceria com a GO Associados, coloca Várzea Grande entre as piores cidades em saneamento básico. Conforme a pesquisa, Várzea Grande investiu 0% do que foi arrecadado com os serviços. 



Enquanto isso, Cuiabá foi uma das capitais que mais investiu e figura entre as 10 melhores do Brasil em saneamento básico. O investimento sobre arrecadação foi de 55%.

Sobre possível privatização, o presidente do DAE afirma que Kalil não fala desta possiblidade. “O prefeito Kalil é o gestor do município e ele não é favorável à privatização, mas também ninguém é doido de falar que isso é impossível. Porque? E todo esforço está sendo feito para que isso não aconteça, mas a privatização não está na linha de frente”.

Com relação ao tempo que seria necessário para melhorar a situação, o presidente usou Cuiabá e a privatização como exemplos. “Vamos pular lá pra Cuiabá. Cuiabá foi privatizada em 2002, agora estão fazendo investimentos de R$ 230 milhões só em duas bacias de esgoto. O Ganha Tempo ficou duas semanas sem funcionar porque não tinha água, e é privatizado”.

“E o sistema que teoricamente deveria estar funcionando no centro de Cuiabá, dentro do Ganha Tempo, não tinha água. Então é uma coisa que é a gente pode ter como parâmetro. Aqui não está funcionando bem, só que lá não está uma maravilha. Não é culpa também da gestão. É porque são sistemas antigos que precisam de tempo para poder corrigir e ajustar”, diz.

“Pergunta quanto tempo demora para poder fazer isso, vamos partir do exemplo de Águas Cuiabá que tem 10/12 anos que foi privatizado e até hoje está tendo alguns problemas semelhantes ou iguais a Várzea Grande. Não é falta de gestão, de querer, não é falta de investimento, mas sim de uma conjectura que tem. Imagina só você ter que abrir o centro de Cuiabá e botar redes novas para poder substituir as redes antigas que estão lá. A mesma coisa que Várzea Grande. Cria um transtorno e é uma decisão muito pesada, porque custa muito”, acrescenta.
 
Com captação de aproximadamente 800 litros por segundo, o presidente afirma que o volume produzido pelo DAE não é suficiente para atender a população. “Seria se não tivesse as ligações clandestinas e as perdas que a gente tem", explica. 
 
Por fim, ele disse que está fazendo o trabalho da melhor maneira possível e com planejamento para solucionar o problema do volume de água “Vai resolver o problema de água em Várzea Grande? Não vai. Cuiabá não resolveu até hoje e tem 12 anos que está privatizado e com investimento pesado, tudo dinheiro público do BNDES sendo investido. O que temos que fazer? Uma gestão mais austera, mais firme e é isso que estamos fazendo. A gente tem feito acompanhamento diário para poder fazer com que o dinheiro público seja investido da forma que tem que ser feito”, finaliza.
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