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Segunda-feira, 13 de maio de 2024

Notícias | Economia

Autoridades passam o recado: aperto monetário pode estar próximo

Ultimamente, é forte a percepção de que a recuperação da economia mostra-se melhor do que o esperado. Não é incomum receber notícias de instituições de análise que aumentaram suas projeções para o crescimento global ou para o PIB (Produto Interno Bruto) de determinado país. Bem como não é incomum ver indicadores econômicos virem melhores do que o consenso.


Todo esse otimismo reflete-se especialmente em um ponto: a estratégia de saída dos bancos centrais ao redor do globo, que adotaram diversas medidas de estímulo durante a pior fase da crise financeira internacional até agora. Enquanto muitos especulam sobre a retirada dos programas de liquidez, as fontes oficiais já sinalizam ter pensado sobre a situação do juro básico.

Juros ao redor do mundo
As notícias estampadas nas manchetes australianas da semana passada, por exemplo, não eram esperadas tão cedo. O RBA (Reserve Bank of Australia) foi o primeiro grande Banco Central a elevar a taxa básica de juro no pós-crise, aumentando a medida em 25 pontos-base, para 3,25% ao ano.

Do outro lado do globo, os norte-americanos do Federal Reserve também começam a falar sobre um aperto monetário, embora a autoridade monetária tenha mantido em seus comunicados mais recentes a já famigerada frase de que "as condições econômicas provavelmente garantirão que a Fed Funds Rate permaneça em níveis excepcionalmente baixos por um extenso período de tempo".

No Brasil, as expectativas também são de aperto - começando a partir de 2010. Recentemente, o relatório Focus mostrou aumento nas projeções para a taxa Selic do ano que vem, passando de 9,50% para 9,75% ao ano. Isso significaria um aumento de 100 pontos-base do patamar atual, de 8,75% ao ano.

O primeiro de muitos?
Em um contexto em que o otimismo divide espaço com a desconfiança, não foi apenas a decisão do RBA que espantou o mercado: o comunicado do banco foi uma surpresa à parte com suas expectativas positivas em relação ao crescimento mundial e australiano.

Há, contudo, quem não compartilhe das opiniões do banco de que a recuperação da Austrália e de seus parceiros comerciais - em especial os emergentes asiáticos - será tão forte no curto e médio prazo. "Eu não concordo com a visão do RBA sobre o mundo", critica o analista Gerard Minack, do Morgan Stanley, acrescentando que um "retorno à política monetária neutra implicaria uma sequência de aumento no juro básico muito mais agressiva do que muitos - incluindo eu mesmo - não esperam".

Porém, é inegável que o ciclo de aperto já começou e pode continuar. A insistência da autoridade australiana na afirmação de que o crescimento provavelmente voltará ao curso em 2010 sinaliza novas altas da taxa básica de juro pela frente. O foco, então, volta para a força da recuperação. Segundo Minack, "permanece em aberto como será a performance do crescimento após a retirada dos estímulos".

Sinais de aperto
O Federal Reserve, por outro lado, ainda está dividido em relação ao próximo passo e o futuro do juro básico ainda é uma incógnita, embora o mercado precifique uma alta para 0,50% ao ano nos próximos 12 meses. Da parte do Fed, há sinalizações de que o assunto está em pauta. Segundo o presidente da autoridade, Ben Bernanke, "no geral, o banco possui um leque amplo de ferramentas para contrair a política monetária, quando o horizonte econômico requisitar isso".

Na última semana, o presidente do Fed de Kansas City, Thomas Hoenig, declarou que uma taxa de 1% ou 2% ao ano não pode ser considerada uma política monetária apertada. Mesmo relutante, ele defendeu que é melhor agir antes que seja tarde.

"Enquanto consideramos nossas escolhas, eu não apoiaria uma política monetária apertada no ambiente atual, mas minha experiência diz que nós precisaremos remover nossa política flexível mais cedo. Mesmo que nós tenhamos que começar imediatamente, levará muito tempo antes que aumentos incrementais possam ser considerados uma política apertada ou até mesmo neutra", afirmou.

Antes de Hoenig, o diretor do Fed Kevin Warsh havia escrito em um artigo do Wall Street Journal que "arriscaria a visão de que uma gestão de risco cautelosa indica que a política necessitará ser normalizada antes que seja óbvio que isso é preciso, provavelmente com maior força do que o normal e tomando conhecimento das políticas instituídas por outras autoridades".

Se por um lado a cautela explicaria uma alta do juro básico, por outro, o mesmo sentimento explica as incertezas em relação ao aperto. "Nós suspeitamos que até que a mistura do público e do privado na demanda global torne-se mais evidentemente direcionada ao rumo anterior, inferir qualquer coisa mais substancial dos comentários dos membros do Fed neste momento seria pura especulação", alerta Neil Mellor, do Bank of New York Mellon.

Selic mais alta já em 2010
Nesse clima de incertezas em torno dos juros, o Brasil não é exceção ao movimento global. Os analistas já começaram a aumentar as apostas para a taxa Selic no próximo ano, como mostra o relatório Focus. Ao mesmo tempo, a curva de juros futuros também mostra que os investidores esperam um aperto monetário em 2010.

A recuperação da economia brasileira, que cresceu 1,9% no segundo trimestre deste ano, é um dos argumentos para a elevação do juro básico. "Ao aumento da demanda de consumo, que impulsionou a retomada inicial, soma-se agora a recuperação parcial das exportações e dos investimentos", explica a MCM Consultores, que elevou a estimativa de avanço do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil em 2010 para 4,7%.

Ressaltando que o PIB efetivo tende a superar o PIB potencial ao longo do tempo e que a demanda interna não se atenuará no ano que vem, os analistas da MCM acreditam que haverá a necessidade de racionar a procura com vistas à inflação de 2011. Assim, a consultoria prevê um ajuste moderado da taxa Selic de 225 pontos-base, começando em julho de 2010 e terminando em janeiro de 2011.

A recuperação da economia também é o argumento utilizado pela Gradual Corretora para explicar seu cenário base, que também inclui um aumento de 225 pontos-base na Selic, mas começando em janeiro de 2011, com uma alta de 25 pontos-base. A instituição, contudo, não descarta uma alta já em dezembro do próximo ano, "na hipótese de o mercado de trabalho ter um nível de contratações muito elevado".

No Brasil, porém, há uma diferença fundamental em relação aos demais países. Se lá fora são os analistas que depõem contra o aperto monetário, aqui são as autoridades do governo. Na semana passada, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que as expectativas de alta no juro básico são exageradas, não havendo necessidade de aperto no próximo ano.
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