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RÊMORA

Delator aponta que esquema de fraudes em licitações na Seduc já existia na gestão Silval

08 Set 2016 - 11:51

Da Redação - Paulo Victor Fanaia Teixeira

Foto: Olhar Direto

Delação de Luiz Fernando Rondon já está homologada

Delação de Luiz Fernando Rondon já está homologada

Em delação premiada firmada junto ao Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), o empresário e réu Luiz Fernando da Costa Rondon admite: o esquema de propinas e fraudes em licitações avaliadas em R$ 56 milhões se iniciou durante a gestão Silval Barbosa, em 2013. O proprietário da empresa Luma Construtora Eirele EPP narra detalhadamente sua entrada no esquema criminoso, o uso da empresa de seu sogro na obra e os pagamentos de propinas realizados a Anderson Roriz, motorista responsável pelo recolhimento das propinas em seu veículo.  A delação é de 5 de julho deste ano.

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Em delação premiada já homologada junto à Sétima Vara Criminal, da juíza Selma Rosane Arruda, o empresário Luiz Fernando da Costa Rondon conta que sua iniciação no esquema criminoso se deu por acaso no segundo semestre de 2013 quando foi à sede da Secretaria de Estado de Educação (Seduc) para colher informações técnicas a respeito de licitações. Lá teria sido dirigido ao setor de Engenharia da secretaria para conversar com Nucia, sub-secretária da pasta. Segundo o delator, teria sido Nucia responsável por instruí-lo que procurasse Ricardo Sguarezi, proprietário da empresa Aroeira Construtora, dando seu telefone.

I - Iniciação:

Luiz Fernando Rondon procura Ricardo Sguarezi, que, por sua vez, lhe convida para uma “reunião” em seu escritório, localizado próximo ao rio Cuiabá. Rondon ainda não conhece o proprietário da Aroeira e por isso convida Esper Haddad Neto, dono da Construtora Panamericana Eireli ME, seu sogro. Esper conhece Ricardo e por conta disso, resolve ir com ele à reunião. Lá, teriam reconhecido os empresários Adalberto Sguarezi e Eder Meciano, da Geotop; José Carlos Pena, da BRP; Moisés Feltrin, da Tirante e a figura de Stepan. Não chegando a nenhum assunto específico, segundo narra o delator, naquela ocasião não fora convidado para nenhum esquema. Ao deixarem o local, Esper Haddad Neto apresenta Luiz Rondon a Ricardo Sguarezi.

II - Segunda Reunião:

Pouco tempo depois, Sguarezi convida Rondon para outra “reunião”. Ao contrário daquela, o assunto desta fora bem específico: a Seduc de 2013, durante a gestão Silval Barbosa, estava exigindo 3% de propina sobre cada obra. Ricardo detinha previamente informações sobre todas as obras que seriam realizadas pela pasta, e por conta disto, fora ele o encarregado pela repartição do bolo. “O pessoal da Seduc estava exigindo uma taxa de 3% para trabalhar lá dentro”, dispara Ricardo Sguarezi.
 

Sabendo do que se tratava, Luiz Fernando Rondon se manteve na reunião e não saiu de mãos vazias, aceitou realizar a obra de uma escola estadual em Rondonópolis. Como a Luma Construtora, registrada em seu nome, não possuía estrutura para “tocar” o projeto, Rondon usou a Panamericana, empresa de seu sogro, para tal. O valor da obra: R$ 4,8 milhões.

III - Recebendo Cobertura:

Para dar ar de legalidade, a licitação ocorreria normalmente. Para dar “cobertura” à fraude, o empresário da JER, Leonardo, se passaria por concorrente e na ocasião da disputa, se daria conta de estar sem documentos importantes em mãos. “Esse foi o modus operandi”, revela Luis Rondon.

IV - Dando Cobertura:

Na ocasião da protocolização da proposta, a figura de Stepan, representando a empresa SANEPAVI, de Mario Salém, fora surpreendido por Luiz Rondon ao tentar protocolizar outra proposta. Stepan foi advertido que não poderia compor a licitação e foi convidado para uma “reunião” com Ricardo Sguarezi. Lá, Stepan tomaria ciência que a obra estava “direcionada” para a Panamericana.

Dito e feito, a empresa sagrou-se vencedora da licitação e convidada seria para, seguindo o mesmo “modus operandi”, “dar cobertura” a outra licitação fraudulenta, desta vez em favor de Chico Moura, possivelmente proprietário da JR Construtora, segundo se recorda o delator.

V - Pagamento:

Recebidas as primeiras parcelas dos R$ 4,8 milhões, referentes às medições da obra em Rondonópolis, Luiz Rondon foi chamado para ir à sala de Nucia, na Seduc. O almoço não sairia grátis: a figura de Anderson Roriz seria o responsável por recolher os 3% que o empresário deveria passar a pagar.

Ao todo, seis pagamentos foram realizados em dinheiro vivo: R$ 31.043,00; R$ 14.527,00; R$ 6.021,00; R$ 19.292,00; R$ 24.009,72; R$ 9.931,87. O “modus operandi” seria sempre o mesmo: feito o saque, agendava-se o encontro na Farmácia Unimed, em frente ao Hospital Jardim Cuiabá, Anderson chegava em um VW/Fox branco, adentrava o carro de Luiz Rondon e consumava-se o pagamento. O recebedor da propina não conferia o valor e, repentinamente, deixava seu carro.

A delação é registrada em um volume de 10 páginas, assinada pelos promotores Carlos Roberto César e Marcos Bulhões. Ela subsidiará a ação penal oriunda da “Operação Rêmora”. Segundo o Gaeco, assim como Luiz Rondon, outros 22 empresários teriam composto o esquema criminoso. Ao todo, 20 obras teriam sido fraudadas. O ex-chefe da pasta, Permínio Pinto Filho, encontra-se preso no Centro de Custódia da Capital (CCC).

A empresa Panamericana está entre as 22 empresas alvo de processo administrativo da Controladoria Geral do Estado de Mato Grosso (CGE-MT), instaurada após a deflagração da operação do Gaeco.

Operação Rêmora:

Segundo o Ministério Público Estadual (MPE), a organização criminosa era composta pelo núcleo de agentes públicos, o núcleo de operação e o núcleo de empresários. O primeiro formado pelos servidores Wander Luiz dos Reis, Fábio Frigeri e Moisés Dias da Silva que estariam encarregados de viabilizar as fraudes nas licitações da Seduc mediante recebimento de propina.

Integrava o núcleo de operação Giovanni Bellato Guizzardi, Luiz Fernando da Costa Rondon e Leonardo Guimarães Rodrigues. São eles os mandatários dos servidores públicos e os encarregados de fazer os contatos diretos com os empresários que faziam parte do terceiro núcleo.

Entre os empresários do ramo da construção civil envolvidos no esquema destaca-se o ex-deputado estadual e governador de Mato Grosso, Moisés Feltrin que foi detido durante a Operação Rêmora. Feltrin é empresário do setor de construção e por determinação judicial seria conduzido coercitivamente para prestar esclarecimentos, mas como em sua casa foram encontradas armas de fogo, o mesmo foi detido em flagrante.

No total, o núcleo de empresários possui 23 empresários e pelo o menos 20 obras foram fraudadas durante a ação do cartel. O esquema de propina envolvia pagamentos de percentuais em obras que variavam entre R$ 400 mil e R$ 3 milhões.

A Operação teve sua segunda fase, a “Locus Delicti”, que resultou na prisão de Permínio Pinto. Ambas as operações apuram um esquema de fraudes na Secretaria de Estado de Educação, Esporte e Lazer (Seduc) em obras que somadas chegam a R$ 56 milhões. Permínio Pinto Filho é acusado de ser o “cérebro” do esquema.
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