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Domingo, 28 de abril de 2024

Opinião

Virgínia Leone Bicudo: uma mulher à frente de seu tempo

Filha de uma imigrante italiana e de pai descente de escravo, nascida em 1910, Virgínia Leone Bicudo, foi uma mulher à frente de seu tempo. Pioneira nos estudos contra o racismo, sua dissertação intitulada “Estudo de Atitudes Raciais de Pretos e Mulatos em São Paulo” defendida na década de 1940 na Escola Livre de Sociologia e Política, a autora analisou a interação dos negros dentro da sociedade paulista pelo caminho inverso, tentou demonstrar como o racismo impactava a vida emocional e psíquica daqueles que eram discriminados. Concluindo que, mesmo com a elevação econômica e social da população negra, não houvera obstrução da “distância social da linha de cor.”

No pós-guerra, passou a fazer parte do grupo de estudos que deu origem a Sociedade Brasileira de Psicanálise, foi a primeira não-médica a ser reconhecida como psicanalista. Ministrou aulas na Universidade de São Paulo, na Santa Casa de Misericórdia e na Escola Livre de Sociologia e Política.

O trabalho de Virgínia em relacionar as estruturas sociais e econômicas permearam sua participação no “Projeto UNESCO de Relações Raciais”, em que ela atribui a rejeição da cor a baixo-autoestima do negro em relação a atitude do outro. Além de sua participação na Unesco, Bicudo escreveu para o Jornal “A Folha da Manhã, ” sua coluna denominada “Nosso Mundo Mental” a levou a ser precursora em falar da mente humana em um programa de grande alcance na extinta Rádio Excelsior. Na década de 1950, mudou-se para a Inglaterra para estudar psicanálise infantil, ao retornar mudou-se para Brasília onde interessou-se em psicanálise e poder. Durante seu tempo no exterior, Virgínia apresentou um programa na BBC onde divulgava seus trabalhos para os brasileiros que estavam no exterior. Neste período foi aluna de Melanie Klein que fundamentou suas análises na infância primitiva e nas fantasias do inconsciente.

Seus escritos foram pioneiros ao usar Sigmund Freud, estabelecendo a subjetividade e o inconsciente, predecessora em vários segmentos, pioneira na sociologia e na psiquiatria Virgínia Bicudo ocupou seu lugar de fala ao tangenciar as sequelas do racismo dentro das perspectivas da falsa democracia racial tão polarizada no Brasil. Foi estudar Sociologia, justamente para entender as questões raciais para se “proteger” do preconceito que é formado a nível sociocultural, como ela mesma disse.

Ao retornar de Londres, Virgínia Leone Bicudo, mudou-se para Brasília, contribuindo  para a formação da Sociedade de Psiquiatria de Brasília, afastando-se dos trabalhos no ano 2000, e falecendo 3 anos depois, aos 93 anos de idade. Apesar de Bicudo ter contribuído de maneira deveras tanto no campo da sociologia quanto da psiquiatria, seu trabalho ainda é pouco divulgado.


Referência
SANTOS, E.S. O legado de Virgínia Leone Bicudo para a Sociologia da Infância no Brasil. Caderno de Pesquisa, São Paulo, vol.48, n.170, Nov/Dec. 2022.
TEPERMAN, M. H. I.; KNOPF, S. Virgínia Bicudo: uma história da psicanálise brasileira. J. psicanal. [online]. 2011, vol.44, n.80, pp. 65-77.


Lidiane Álvares Mendes é mestra em História pela Universidade Federal do Amazonas. Professora da rede privada em Cuiabá/MT. Autora do livro: Na esteira da loucura: Colônia de Alienados Eduardo Ribeiro –Manaus/AM – 1894-1930. Acesso em:
https://www.pimentacultural.com/_files/ugd/18b7cd_923a6555af464622b7d23a104d19d3a1.pdf
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