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Domingo, 28 de abril de 2024

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Festival Judaico que começa nesta segunda é o de número 17; ‘A Sorte em Suas Mãos’, abre a programação

Cada vez mais, o Festival de Cinema Judaico amplia seus limites e fronteiras e, ao tema visceral da Shoa, acrescenta questões relevantes de arte e política que têm tudo na ver com a atualidade do espectador não necessariamente judeu. A arte pode ser local, regional e um grande como Tolstoi dizia que só falando sobre sua aldeia um artista poderia falar para o mundo. Daniela Wasserstein, que dirige o Festival Judaico, sabe disso e fez uma seleção que vai surpreender pela diversidade (e qualidade).

O 17.º festival começa nesta segunda, 5/8, em São Paulo, para convidados, com a projeção de A Sorte em Suas Mãos, de Daniel Burman. Prossegue amanhã para o público, até dia 11, e terá desdobramento no Rio. São 30 ficções e documentários de países como Alemanha, Argentina, Brasil, França, República Checa, Rússia e Suécia. Todo ano, o festival presta homenagens e/ou organiza retrospectivas. A atual, formada por nove títulos, chama-se Cine Biografia e documenta personalidades da cultura judaica, contemplando áreas como literatura, filosofia e música.

Tudo o que você queria saber sobre Bob Dylan, por Martin Scorsese; sobre Tony Curtis, por Ian Ayres; sobre o escritor Sholem Aleichem, por Joseph Dorman. A par das biografias, o festival traz muita ficção. Preenchendo o Vazio, de Rama Burshtein, foi o grande vencedor dos prêmios da Israeli Film Academy no ano passado. Ganhou sete, incluindo melhor filme e direção. Em Veneza, valeu a Taça Volpi, de interpretação feminina, para Hadas Yaron. Na Mostra, ganhou o prêmio especial do júri.

A protagonista é uma garota de uma família hassídica de Tel-Aviv. Ela está para se casar (com o amado), quando a irmã morre no parto. Para manter o bebê com os avós, a família lhe cobra que ela se case com o cunhado viúvo. Shira – é o nome da jovem – vai renunciar a seus sonhos? Outra garota, Hannelore, é a protagonista de Lore, de Cate Shortland, que também ganhou um monte de prêmios, incluindo o de melhor atriz (para Saskia Rosendahl) em Estocolmo, o do público em Locarno e o da crítica em Hamburgo. O cinema não costuma mostrar os efeitos da derrocada do nazismo sobre pessoas comuns.

Separada dos pais, que foram presos ou mortos (ele era do Exército de Adolf Hitler), uma garota e seus irmãos fazem a travessia de uma Alemanha já dominada pelos aliados. A dura luta da sobrevivência, as alianças improváveis (com um judeu fugitivo), a descoberta do horror dos campos de extermínio, tudo se abate sobre Lore, que assiste, impotente, à morte de um dos irmãos. A chegada à casa não é o fim dessa travessia. A avó é durona e prefere acreditar que os aliados estão mentindo. Há um desfecho forte, como a história reclama.

As atrações prosseguem com Simão e os Carvalhos, de Lisa Ohlin, sobre garoto sueco que se liga a um frágil colega judeu para fazer uma descoberta inesperada sobre a própria origem. A música desempenha um papel importante na trama e, a partir dos quadros de Marc Chagal e do musical O Violinista no Telhado – cuja origem é a história do leiteiro Tevye, criado por Sholem Aleichem –, você sabe que a precariedade do violinista é uma metáfora poderosa das vicissitudes do povo judeu em não importa que regime hostil. Como nem só de ficções se faz a programação, vem da Argentina outro destaque – o documentário Sem Ponto Final, de Shlomo Slutzky, que investiga as divisões de judeus na resistência à ditadura militar, nos anos 1970. Será uma semana apenas, mas haverá muito para ver.

Toda a crítica torceu o nariz e até o público não foi receptivo com High School Musical – O Desafio. O longa de César Rodrigues, embora bem produzido (e acabado), não reproduziu o êxito da franquia nem virou cult. Mas serviu para aproximar a empresa carioca Total Filmes da cúpula da Disney na Argentina, e foi por meio desse contato que Walkiria Barbosa, a poderosa sra. ‘Entertainment’ da Total, ficou amiga de Daniel Burman. O cineasta argentino hospeda-se em sua casa quando vem ao Brasil – ao Rio –, ela virou ‘tia’ para seus filhos.

Walkiria hesita agora em aceitar o convite que Burman lhe fez para que ela seja atriz em seu cinema. Enquanto discute a possibilidade, ela aprofunda a parceria que faz com que a Total e a Miravista, o braço da Disney para produção no País, estejam envolvidas não em um, mas em três filmes do portenho. O primeiro é o que ele roda atualmente em Buenos Aires, El Misterio de la Felicidade. A produção se transfere dia 20 para o Rio, para cerca de dez dias de filmagem no Brasil.

O Mistério ainda está em processo e o Total e Burman já têm outra parceria acertada, para um filme que vai se chamar Amor.com, sobre relacionamentos na era da internet. Burman é judeu, de pais poloneses. Boa parte de sua obra, senão toda, remete aos temas da família e das tradições do judaísmo. Exemplo disso é A Sorte em Suas Mãos, que abre nesta segunda, 5/8, o Festival Judaico em São Paulo. O filme, interpretado pelo compositor Jorge Drexler, é sobre um judeu divorciado e amante do jogo que reencontra antiga namorada.

Para legitimar sua paixão pelo jogo, ele busca o aval de um rabino tão libertário que o cara tem uma banda de música. Graças a Burman, Walkiria diz estar imersa na cultura judaica. O motivo é simples – a terceira parceria da Total com o diretor será justamente a sequência de O Abraço Partido, com o qual ele recebeu dois prêmios no Festival de Berlim de 2004. Vem aí O Abraço Partido 2 – em 2014, para estrear em 2015? Bem antes, a Total lança dia 30 Se Puder... Dirija!, a primeira produção brasileira em 3-D. A diversidade é um dos mandamentos na Total.

17.º FESTIVAL DE CINEMA JUDAICO DE SÃO PAULO
De 6 a 11/8
Locais: Hebraica, Centro da Cultura Judaica, Teatro Eva Herz, MIS, Cinemark Higienópolis.
Grátis e R$8 – www.fcjsp.com.br
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