O mais novo conflito agrário no Vale do Araguaia entre brancos e um grupo xavante contra outros índígenas da mesma etnia, por causa de uma área na localidade denominada Suiá Missu, expõe o porquê de a região ser conhecida como Vale dos Esquecidos. A avaliação é de antigos e novos líderes políticos e prefeitos "dos Esquecidos", segundo os quais a "falta de respeito e de sensibilidade política" dos sucessivos governos (tanto em âmbito estadual quanto no federal) é "gritante".
Segundo a Polícia Militar, a situação na BR 158, bloqueada desde a noite de sábado e onde se concentra o maior grupo de xavante e de posseiros e fazendeiros, é "bastante delicada" e o "clima é de tensão máxima". "Tá parecendo um barril de pólvora. Basta cair um palito de fósforo para tudo pegar fogo", avalia um oficial PM ouvido pelo
Olhar Direto na manhã desta segunda-feira que pediu para não ser identificado.
Descontentes com decisão judicial que determina a desintrusão imediata, os posseiros decidiram radicalizar e também fecharam outras rodovias federais (080 e 242) e estão dispostos a "matar ou morrer pela terra". Acusam a Fundação Nacional do Índio (Funai) de fraude e de induzir o Juízo Federal a erro.
Fazendeiro com posse de terras na região da suposta reserva indígena Suia-Missú e um grupo de índios Xavante prometem isolar o Araguaia (nordeste de Mato Grosso), com bloqueio das BRs 158, 080 e 242.
Insatisfeitos com a decisão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) pela desinclusão imediata dos fazendeiros e pequenos produtores da suposta reserva, a Associação de Produtores e ao menos 200 índios afirmam que estão dispostos a tudo ou nada, pois consideram como fraude a iniciativa da Fundação Nacional do Índio (Funai) em demarcar como área indígena área Xavante.
“Infelizmente, o Araguaia ainda continua como o ‘Vale dos Esquecidos’, apesar de alguns avanços obtidos nos últimos anos”, declarou o ex-deputado federal Ricardo Santa Cecília Correa, cuja base eleitoral foi a região.
Como parlamentar, Correa acompanhou de perto o conflito agrário entre índios e posseiros. Segundo ele, a ocupação dos posseiros se deu após a Liquifarm – Agropecuária Suiá Missú A/S doar a terra para a Funai. Ele explicou também que na área havia pouquíssimos índios e só após a doação a Funai passou a levá-los para lá. Diferente do que alega a Funai, os índios, ainda conforme o parlamentar, eram da região do Sangradouro (mais ao sul na região do Araguaia).
Política
Já o ex-deputado estadual Pedro Lima considera que o Vale do Araguaia, em geral, perdeu representação política de qualidade nos últimos anos, o que infelizmente contribui para a manutenção do termo “Vale dos Esquecidos”.
“O Vale do Araguaia não acompanhou o restante do Estado, perdeu líderes tradicionais e agora está sem expressão política”, resume. Ele recorda que até houve um avanço econômico na parte do Médio Araguaia, mas como um todo a região ainda padece politicamente , ainda mais quando se compara sua atual representatividade política com a das décadas de 70 e 80, antes dos olhos do Estado se voltarem ao Nortão.
Agora, o Araguaia precisa estreitar seus vínculos com os Estados do Pará e Goiás para se manter economicamente e abandonar a pecha de esquecido. O escoamento da produção é essencial neste processo, argumenta Lima.
Atualizada às 08h25 / 2ª atualização às 09h39 / 3ª atualização às 12h05
