O presidente Barack Obama (EUA) fará hoje, em Acra, capital de Gana, um discurso cercado de simbolismo para apresentar as linhas gerais do que será nos próximos anos a política externa do primeiro mandatário americano negro para o continente africano.

Na sua primeira visita à África subsaariana desde que assumiu a Casa Branca, e em meio a grande expectativa local, Obama, filho de pai queniano, deverá exortar os países da região a primar pela governança e pelo combate à corrupção em vez de culpar o passado colonial para superar o subdesenvolvimento.

"Acredito que os africanos são os responsáveis pela África", disse Obama em entrevista ao site africano Allafrica.com.

Presidente Barack Obama (esq.) caminha ao lado do colega ganense, John Atta Mills, em sua primeira viagem ao continente
"Parte do que tem barrado o desenvolvimento da África é que por muitos anos utilizamos desculpas para a corrupção e o mau governo, que seriam de alguma forma consequência do colonialismo, ou da opressão ocidental, ou do racismo. E eu não acredito em desculpas."

E o simbolismo começa pelo próprio país escolhido por Obama. Embora menos importante estrategicamente do que a Nigéria, por exemplo, ou mesmo do que o Quênia, Gana ostenta uma estabilidade democrática rara no continente e já contabiliza cinco pleitos presidenciais consecutivos nos últimos anos.

"É um exemplo admirável de governo sólido e democrático, de uma sociedade civil vibrante e que obteve grande progresso no seu desenvolvimento recentemente", disse a assessora de África do Conselho de Segurança Nacional, Michelle Gavin.

O discurso foi preparado para ser o quarto e último da série de pronunciamentos-chave para a política externa de Obama.

Os três anteriores foram em Praga (República Tcheca), em abril, em que Obama defendeu a desnuclearização do mundo; no Cairo (Egito), em junho, destinado ao mundo islâmico; e em Moscou (Rússia), na última terça, para "recomeçar" as relações entre os antigos rivais.

A visita a Gana deverá servir para marcar diferenças entre as políticas de Obama e de George W. Bush para a África. A região é uma das poucas do mundo em que seu antecessor goza de popularidade, devido a programas de combate à Aids e à malária.

Para analistas, a linha adotada pela nova Casa Branca para o continente é, até o momento, basicamente de continuidade.

Obama chegou ontem à noite ao país, último destino do giro internacional iniciado na segunda-feira que incluiu sua primeira visita à Rússia, a cúpula do G8 em Áquila (Itália), e encontro ontem com o papa Bento 16 (leia texto nesta pág.).

O discurso do presidente dos EUA está previsto para ocorrer no Parlamento ganense. Mas autoridades do país organizaram também várias transmissões do pronunciamento por rádio e por telões pela capital.

A estada do americano, que retorna hoje a Washington, inclui também um encontro com o presidente John Atta Mills e uma visita ao forte Cape Coast, durante mais de dois séculos um importante entreposto britânico para o tráfico de escravos, a cerca de 160 km de Acra.