A resolução do debate que por seis décadas (60 anos) disputou a conveniência de uma ou outra vacina para a prevenção da poliomielite está na administração de ambas, segundo um estudo publicado nesta quinta-feira (21) pela revista "Science".
Os autores, liderados por Hamid Jafari, da OMS (Organização Mundial da Saúde), lembraram em uma teleconferência a "disputa feroz" que existe desde a década de 1950 sobre o uso do vírus inativado de pólio produzido pela Salk ou o vírus vivo atenuado de pólio oferecido pela Sabin.
— O debate continuou mesmo depois que em 1988 se estabeleceu a meta da erradicação global da poliomielite para a qual se escolheu a vacina de vírus atenuado.
O estudo foi realizado com crianças na Índia às quais já tinha sido administrada a vacina com o vírus vivo, e mostra que uma só dose da vacina inativada estimula a imunidade de maneira mais eficaz que um "reforço" da vacina com o vírus vivo.
A vacinação global com o vírus vivo conseguiu que o número de países onde a pólio era endêmica passasse de 125 em 1988 para três em 2013 e a incidência diminuiu em 99%, destacaram os pesquisadores. A transmissão do vírus de pólio tipo 2 se interrompeu globalmente em 1999 e o último caso de vírus de pólio tipo 3 foi detectado em novembro de 2012.
"No entanto em partes de três países, Afeganistão, Nigéria e Paquistão, se segue informando de casos de vírus de pólio tipo 1 e a exportação deste vírus causa surtos", assinalou o estudo.
Jafari explicou que o vírus vivo atenuado oferece algumas vantagens como uma imunidade superior das mucosas, a facilidade da administração que não requer uma agulha e um preço mais baixo, mas "a vacina tem suas limitações". Entre elas que gera um nível baixo de imunidade em alguns países tropicais e uma imunidade intestinal incompleta que se desvanece rapidamente.
"Para interromper a transmissão do vírus ativo, o vírus atenuado deve ser administrado a uma alta proporção das crianças", ressaltou a pesquisa.
A equipe realizou um teste clínico aleatório no norte de Índia na qual quase 1.000 crianças receberam uma ou outra das vacinas. Após quatro semanas, a todos eles foi dada uma dose adicional do vírus vivo atenuado. Nas crianças que tinham recebido primeiro a dose de vírus inativo, a quantidade de restos de vírus nos sedimentos gerada pelo vírus ativo atenuado diminuíram entre 39% e 76%, indica o artigo.
Por outro lado, nas crianças que já tinham recebido uma dose do vírus vivo atenuado, a diminuição "não foi significativa no grupo de idade dos seis meses aos cinco anos, embora tenha sido de 41% a 52% entre as crianças de dez anos de idade", acrescentou.
Isto significa que estas crianças eram menos infecciosas para outras, um aspecto-chave para deter a propagação do vírus. Além disso, a imunidade da mucosa intestinal resultou fortalecida no grupo que tinha recebido o vírus inativo e isso os deixou mais protegidos contra a infecção do vírus de pólio.
"Assim, mais de 25 anos depois que a Assembleia Mundial da Saúde aprovou uma resolução para a erradicação da poliomielite, a resposta à controvérsia sobre as vacinas é aparente: ambas deveriam ser usadas", concluiu o artigo.
Em consequência, a OMS já não recomenda um programa de vacinas exclusivo com o vírus vivo atenuado, mas "recomenda que os países que usam um protocolo de vírus vivo atenuado introduzam uma dose do vírus de pólio inativo em seu programa rotineiro de vacinação".