O ministro Tarso Genro (Justiça) comparou nesta quarta-feira o escândalo do mensalão do DEM ao episódio da máfia dos fiscais, ocorrido na gestão Celso Pitta (PTB) em São Paulo, que consistia na cobrança de propina de camelôs da capital paulista. Tarso classificou de "lastimável" o suposto esquema de pagamento de propina a aliados do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM), mas disse que é preciso cautela antes de se apontar culpados --mesmo discurso adotado pela cúpula do PT.

"É tão grave do ponto de vista político-institucional como o caso da máfia dos fiscais. Configurados os delitos que estão sendo configurados, são delitos muito sérios contra a esfera da política no Brasil", afirmou.

Tarso disse que a "trama" descoberta pela Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal, é só a primeira de uma série de ações da PF para desbaratar irregularidades contra os cofres públicos.

O ministro afirmou que a operação, que descobriu o suposto esquema de pagamento de propina a integrantes do governo do DF, não teve nenhum cunho político --mesmo tendo o democrata Arruda como seu protagonista. O DEM é o principal adversário do PT, partido de Tarso, em nível federal. A PF é subordinada ao Ministério da Justiça.

"Eu sempre disse e repito: a Polícia Federal não investiga partidos, religiões, ideologias. Investiga pessoas. Se essas pessoas pertencem a partidos, elas têm que prestar contas aos seus partidos para os partidos tomarem atitudes que julgarem convenientes. Essa apreciação se prejudica oposição e governo é totalmente indiferente ao Ministério da Justiça, porque a PF investiga pessoas de todos os partidos desde que estejam cometendo delitos", afirmou.

Segundo o ministro, a operação da PF foi "exemplar" uma vez que desmontou o esquema de pagamento de propina sem realizar ações "espetaculares".

"As pessoas foram preservadas até o momento em que se abriu o segredo de Justiça. Achamos isso exemplar para o Estado. Não podemos adiantar a culpa de cada um. Agora, foi operação padrão da PF e muitas outras ainda ocorrerão, podem estar certos disso."

Questionado se o mensalão do DEM vai beneficiar o PT na disputa presidencial de 2010, Tarso desconversou. "Não estou preocupado com isso. Não sou da oposição e não vou concorrer para o governo federal."

Cautela

Assim como Tarso, o PT adotou o discurso de cautela em relação às denúncias envolvendo o governador do DF. Os petistas prometem realizar uma campanha eleitoral em 2010 de "alto nível", sem politizar o episódio que envolve a suposta participação de Arruda em esquema de pagamento de propina a integrantes da base aliada na Câmara Legislativa do DF.

O presidente do partido, Ricardo Berzoini (PT-SP), disse nesta quarta-feira que o PT não vai agir como "oportunista" para atacar a oposição no episódio do mensalão no DF.

"Eu não vejo esse episódio com vínculo nacional. O PT deve seguir o seu rumo falando de investimentos, crescimento econômico, desenvolvimento do país. Não deve agir como oportunista em situação como essa", afirmou o petista à Folha Online.

Alguns integrantes do PT, porém, acreditam que o episódio envolvendo Arruda vai sim trazer danos ao candidato da oposição em 2010. Como o DEM é o principal aliado do PSDB em nível nacional, muitos petistas acreditam que as denúncias no Distrito Federal vão respingar no candidato tucano ao Palácio do Planalto.

Nos bastidores, petistas afirmam que o partido não pretende usar o episódio do mensalão do DEM na campanha presidencial de 2010 para que o partido também não seja atacado pela oposição no episódio do mensalão de 2006 --que resultou no afastamento da cúpula do PT. Seria uma espécie de "acordo informal" para evitar que o assunto desgaste a candidatura da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) ao Palácio do Planalto