A provável reeleição do presidente Evo Morales, como indicaram pesquisas de boca-de-urna neste domingo, fortalece seu poder e gera fortes expectativas em relação ao rumo que ele dará ao seu novo governo.
Morales teria recebido mais de 60% dos votos, superando em 10 pontos percentuais sua votação de 2005, e passaria a ter maioria no Congresso Nacional.
Neste primeiro mandato, ele não teve maioria no Senado e negociou vários projetos com a oposição --o que não seria necessário, em seu segundo governo, se contar com maioria coesa.
"Vamos ver como Morales vai lidar com essa hegemonia. Tomara que tenha uma atitude mais conciliadora", disse o analista político Carlos Cordero, professor da Universidade Mayor de San Andrés.
Na opinião da cientista política Erika Brockmann Quiroga, a Bolívia tem hoje um novo retrato político: um partido "dominante" e uma oposição "confusa e fragilizada".
O partido dominante, ao qual se referiu, é o Movimento ao Socialismo (MAS) do governo. "Com esse apoio eleitoral e maioria no Congresso, Morales poderá pensar, tranquilamente, num terceiro mandato", disse.
Para o analista Javier Gómez, do Centro de Estudos para o Desenvolvimento Trabalhista e Agrário (CEDLA), o apoio inédito deverá dar maior "segurança" a Morales, que optaria por "um governo mais pragmático e de centro, mais ligado às políticas e ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva".
Brasil
Com a maioria dos votos no Parlamento, como o próprio Morales destacou, "foi aberta a via livre" para a regulamentação e implementação da nova Constituição do país.
A Carta Magna foi ratificada num referendo popular em janeiro deste ano e tem itens polêmicos, como o dos territórios que poderão ser reclamados pelas comunidades indígenas por terem sido de seus ancestrais e o capítulo de hidrocarbonetos.
"Como está, este capitulo aumenta o poder do Estado sobre os recursos naturais, mas afasta os investimentos no setor", disse o analista econômico e ex-secretário de Energia Carlos Alberto López.
Ele lembrou que o Ministério de Hidrocarbonetos está discutindo junto com as petroleiras uma nova lei para esta área. "O governo diz que não tocará uma vírgula da nova Carta, mas está discutindo a nova lei. É um vazio legal e um momento de expectativas", afirmou.
López entende que a Bolívia vive hoje "maior dependência do Brasil", seu maior importador de gás, mas que passou a comprar menos, num momento de queda nos preços internacionais. O que afetará bruscamente, este ano, o caixa do governo boliviano. "Evo não aproveitou a etapa dos preços altos do gás para gerar emprego, produtividade no país. Continuamos dependentes das commodities", acrescentou.
Com 10 milhões de habitantes e 27 anos de democracia marcados por turbulências políticas, a Bolívia é o país mais pobre da América do Sul. Por isso, os projetos sociais, distribuídos por Morales, recebem apoio de especialistas que, ressalvam, porém, que a geração de emprego não está acompanhando o ritmo da ajuda.