A Companhia Siderúrgica Nacional não avalia elevar a oferta pela Cimpor neste momento, preferindo conversar com os principais acionistas da produtora portuguesa de cimento para convencê-los de que sua proposta de compra é justa.
"Nós fizemos uma oferta em cima de um preço técnico. Talvez estejamos sendo mais agressivos que os últimos negócios. Estamos falando em torno de nove a 10 vezes o Ebitda, coisa que tradicionalmente é agressiva, principalmente em função do momento que estamos vivendo", afirmou o presidente-executivo da CSN, Benjamin Steinbruch, nesta sexta-feira.
Em Lisboa, Steinbruch falou à imprensa portuguesa um dia após o Conselho de Administração da Cimpor ter rejeitado, por unanimidade, a oferta da CSN de 5,75 euros por ação da Cimpor.
Um grupo de jornalistas brasileiros acompanhou, por telefone, as declarações do executivo.
Apesar de considerar a companhia portuguesa como uma oportunidade única para a CSN, em meio aos esforços de internacionalização de sua empresa, Steinbruch disse que não fará uma oferta excessiva pela Cimpor e insistiu que não ultrapassará "critérios técnicos" de preço.
Nesta sexta-feira, os papeis da Cimpor encerraram em queda de 0,46 por cento em Lisboa, a 6,47 euros, ainda bem acima do valor proposto pela CSN em 18 de dezembro.
"É claro que eventualmente estamos abertos a conversar, a discutir, com cada um dos interessados. Mais direto que isso é impossível", disse Steinbruch.
Com um caixa de cerca de 9 bilhões de reais, a CSN é um grupo "com baixo endividamento e pronto para fazer uma grande aquisição", afirmou ele.
Os principais sócios da Cimpor são a construtora Teixeira Duarte, com 23 por cento do capital; seguida pela cimenteira francesa Lafarge, com 17,3 por cento. Fazem ainda parte do grupo Manuel Fino, com 10,7 por cento; Fundo de Pensões do Millennium BCP, com 10 por cento, e o estatal Caixa Geral de Depósitos (CGD), com 9,6 por cento.
Steinbruch revelou que a CSN começou a avaliar a Cimpor depois que recebeu uma oferta para comprar a participação que a Lafarge tem na companhia portuguesa.
"Analisamos, gostamos da empresa e achamos que nos satisfaria em termos de oportunidade de internacionalização."
Segundo o executivo, o prazo das conversas com os acionistas da Cimpor será de duas a 10 semanas a partir do registro oficial da oferta junto à agência reguladora do mercado acionário de Portugal, a CNVM.
A proposta da CSN é condicionada à aceitação de ao menos 50 por cento dos acionistas da Cimpor.
O grupo brasileiro pretende usar a Cimpor para ampliar suas frentes de atuação em um momento em que os investimentos em infraestrutura em países com economia com perspectiva de forte crescimento como o Brasil são ampliados, demandando mais aço e cimento.
A CSN estreou no mercado de cimento no ano passado, com a inauguração de uma fábrica em Volta Redonda (RJ). A Cimpor está entre as 10 maiores produtoras de cimento do mundo, com operações em diversos países, entre eles o Brasil.
DISPUTA À VISTA?
A oferta da CSN, contudo, poderá enfrentar propostas rivais. A imprensa portuguesa noticiou que o também brasileiro grupo Camargo Corrêa estaria interessado em uma fatia na Cimpor acima de 33 por cento, mas menor que 50 por cento, através de um acordo amigável e sem ter a obrigação de lançar uma oferta por todas as ações da cimenteira.
A operação poderia se dar pela fusão dos negócios de cimento da Camargo Corrêa com a Cimpor, o que pelas regras do mercado de capitais de Portugal dispensaria o lançamento de uma Oferta Pública de Aquisição (OPA), desde que com a aprovação de dois terços dos acionistas de ambas as companhias.
Procurada, a Camargo Corrêa informou que não comentaria o assunto.
Outra brasileira citada por analistas em Portugal como potencial interessada em um acordo com a Cimpor, a Votorantim Cimentos também não comentou o assunto.