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Domingo, 28 de abril de 2024

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"Lunar"

Por erro de avaliação, filme sai primeiro em DVD e depois vai para os cinemas

Já ouviu falar dos filmes "Guerra ao Terror" e "Lunar"? Procure na locadora de DVDs. Eles devem estar escondidos em alguma estante da loja.

Já ouviu falar dos filmes "Guerra ao Terror" e "Lunar"? Procure na locadora de DVDs. Eles devem estar escondidos em alguma estante da loja. Apesar dos prêmios em festivais e das críticas elogiosas na imprensa internacional, os dois títulos se somaram à inglória lista dos filmes que não passaram pelo crivo dos distribuidores e, sem nem mesmo um pit-stop nas salas de cinema, foram lançados diretamente em DVD.


No caso de "Guerra ao Terror", também indicado ao Globo de Ouro e possivelmente concorrente ao Oscar, o equívoco foi tão vistoso que o filme cumprirá trajetória inédita no Brasil. Depois de lançado em DVD em 2009, chega às salas de cinema no próximo dia 5 de fevereiro, com novo cartaz - e ganha um outro DVD, agora com extras promocionais.

Será, no entanto, um lançamento pequeno, com não mais de 40 cópias. Além de o título já estar "queimado", porque perdeu o ineditismo, muitas redes de exibição simplesmente se recusam a mostrar filmes que já foram lançados em DVD.

"Nunca aconteceu isso antes", justifica-se Marcos Scherer, principal executivo da Imagem Filmes, a empresa que importou "Guerra ao Terror". "Houve uma série de problemas", diz. As explicações que dá para o erro mostram que importar filmes é um misto de ciência com loteria.

As cópias de filmes estrangeiros lançados no Brasil são feitas no país a partir de uma matriz, o chamado internegativo, emprestada pela empresa que detém os direitos do filme no exterior. No caso de "Guerra ao Terror", explica Scherer, o internegativo não estava disponível na ocasião em que ele queria lançá-lo, o que obrigaria a Imagem Filmes a pagar pela compra de um - um valor da ordem de US$ 35 mil, mais outro tanto em impostos.

Outro problema, diz: "O gênero filme de guerra está com histórico de baixos resultados no Brasil". Scherer cita "O Reino", de Peter Berg, com Jamie Foxx. Lançado no Brasil no final de 2007, com 40 cópias, o filme teve apenas 80 mil espectadores - um fracasso retumbante.

Terceiro problema, argumenta Scherer: o medo da pirataria. O filme estava pronto para ser lançado em março de 2009, quando ainda não havia "estourado" nos Estados Unidos. Se a decisão sobre lançar, ou não um filme demorar muito, quando isso ocorrer o título pode já estar à venda em camelôs. "Nem sempre podemos esperar o momento adequado", diz.

Quarto problema: a Imagem Filmes não tinha, neste caso, controle sobre a exibição do filme em televisão - aberta ou paga. Nesses casos, o título pode ser comercializado com um canal, como HBO, por exemplo, diretamente pela matriz, nos Estados Unidos. "Guerra ao Terror" ia chegar às tevês em março de 2010, mas depois desta reviravolta a empresa renegociou com os detentores dos direitos, de forma que o filme só passará nas telinhas no segundo semestre.

Um quinto problema, que Scherer não menciona, mas está evidente na capa do DVD que foi colocado à venda no ano passado. "Guerra ao Terror" foi dirigido por uma cineasta pouco famosa, Kathryn Bigelow, e é protagonizado por um trio de atores sem grande currículo - o excelente Jeremy Renner, Anthony Mackie e Brian Geraghty. Nenhum desses quatro nomes aparece na capinha do DVD.

No esforço de "vender" o título, a produtora estampou na capinha do DVD apenas os nomes de três atores conhecidos que fazem brevíssimas participações no filme, como se eles fossem as estrelas de "Guerra ao Terror" - David Morse, Ralph Fiennes e Guy Pierce.

Scherer conta que a Imagem Filmes importa cerca de 30 títulos por ano - e rejeita outros 30. "Sempre há arrependimento", diz. "É a graça do negócio. Não se repete. E não é algo matemático".

O experiente Rodrigo Saturnino, diretor-geral para cinema da Sony Pictures, também tem as suas justificativas para não lançar nos cinemas "Lunar", a promissora estreia de Duncan Jones como diretor. "Essa é sempre uma decisão compartilhada entre o escritório brasileiro e a matriz, em Los Angeles", diz Saturnino.

A decisão se dá, diz claramente, em função de um cálculo de ordem econômica. "Que a renda estimada do filme seja superior aos seus custos estimados". Entre gastos com copiagem, importação, confecção de materiais (cartazes etc), marketing e impostos, o lançamento de um filme estrangeiro no Brasil sai, no mínimo, por um valor entre R$ 200 mil e R$ 300 mil. "Com menos do que isso você não vai lançar, mas 'arremessar' o filme", diz Saturnino.

Para empatar esse valor, o filme precisa de cerca de 50 mil espectadores. "Isso num lançamento com cinco cópias e apenas com o básico dos básicos", diz.

No caso de "Lunar", houve muitos comentários na imprensa em função de o diretor ser filho do cantor David Bowie e estrear justamente com uma ficção passada na lua - mesmo tema de uma das mais famosas canções do pai, "Space Odity", de 1969, na qual narra as aventuras do fictício astronauta Major Tom.

"Às vezes, avaliamos mal as expectativas da imprensa. Nem sempre essa expectativa reverte em fatos positivos para o lançamento", diz Saturnino. Contra "Lunar", o escritório da Sony brasileira contava com o histórico de resultados do filme em outros mercados. "Não foi bem em lugar nenhum", justifica o executivo.

Mas e a Argentina? Mesmo diante de um mercado cujo tamanho é a metade do brasileiro, a filial portenha da Sony apostou em "Lunar". Explica Saturnino: "A Argentina tem a característica de apreciar esse tipo de filme. Além disso, os gastos deles são muito menores. O Brasil tem o custo de lançamento mais alto da América Latina", reclama.

A Sony Pictures Brasil recebe cerca de 40 filmes por ano. "Desses, rejeito entre 10 a 15", diz. "Eu me dou o direito de estar errado. Para diminuir essa margem de erro, procuro ouvir o maior número possível de pessoas".

E, se "Lunar" for indicado a um Oscar? "Se isso acontecer, vou ter que dizer que 'errei'. Mas a probabilidade de cometer esse erro é pequena", diz. " No caso desse filme, a própria matriz não queria que fosse lançado aqui. Estou tranqüilo, por isso".
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