O fotógrafo e arquiteto, Pedro Thame, de 27 anos, lança na próxima sexta-ferira (23) o livro “Vacilante”, um compilado de fotos da traducional Festa de São Benedito, relizada em Cuiabá, ao longo dos anos. O registro de todas as fotografias foram feitos com câmera analógicas, processo que, segundo ele, cria um distanciamento entre fazer a foto e vê-la, proporcionando aproximações diferentes do material fotografado.
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"Controlar a revelação também é importante, revelando meus filmes manualmente em casa, controlo os detalhes para chegar às texturas que busco nas imagens. É um trabalho quase todo manual. O processo de concepção de uma publicação é manual ao máximo, só quando não tenho mais como, é que passo ao computador. Foi assim com essa e está sendo com a próxima em que estou trabalhando. Gosto de trabalhar com as mãos para pensar uma publicação, é assim que ela será sentida”, conta.
O livro reúne fotografias da festa desde 2014. Antes de publicá-las, as fotos foram utilizadas como tema para trabalho de conclusão de curso de arquitetura e urbanismo e também foram expostas no Museu de Artes e Cultura Popular (MACP) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
A publicação brinca explorando um certo jogo de significação e ressignificação das imagens. A maioria das fotos da sequência ocupa uma página toda, mas, em alguns momentos, surge uma página menor, que deixa ver só uma parte da imagem seguinte. Ao passar a página pequena, o leitor cria recortes e justaposições entre as fotos maiores e menores. Essa diferença cria um contexto que acaba ressignificando cada imagem e o conjunto como um todo.
"Para mim, uma questão importante é o fazer de livros no momento em que nos encontramos. Em especial, livros de fotografias. Nossa sociedade está em um ritmo alucinante de produção e consumo de imagens. Produzimos, consumimos, descartamos e armazenamos em nuvens imagens a uma velocidade assombrosa. E salvo algumas poucas exceções, nos detemos diante delas apenas o tempo de dar o duplo clique do like da rede social. O fotolivro tem um tempo diferente, um tempo lento, que nos permite criar outros afetos com as imagens."
O trabalho de Pedro começou “meio que sem saber”, como ele descreve, em 2013. O fotógrafo encontrou a procissão e deixou ser levado “por aquilo que criava e que parecia suprimir tudo ao redor”. Na época, ele não chegou a fazer qualquer registro fotográfico, mas afirma que a experiência ficou marcada. Os registros começaram apenas no ano seguinte, quando acompanhou a procissão por inteiro.
“Pude, então, juntar alguns pedaços do que tinha presenciado e me aprofundar naquela experiência: o caminhar por aquelas ruas, com o grupo grande caminhando lentamente, com a melodia ouvida de dentro do próprio coro, pontuada por silêncios profundos, num fim de tarde que já vira noite perfumada por mirra. Tive a certeza que era outro lugar. Não era o centro de Cuiabá que conhecia, a Av. do CPA que transitava no dia-a-dia. A procissão criava algo só dela, um lugar próprio – estar na procissão é estar nela onde quer que esteja. Depois disso, voltei todos os anos. É claro que muita coisa passou a fazer sentido tempos depois", relata.
Sendo
vendido por R$ 25 no site e também nas livrarias Janina, “Vacilante” está sendo autopublicado graças ao financiamento feito pela Lei de Incentivo à Cultura, do Fundo Municipal de Apoio e Estímulo à Cultura de Cuiabá. Parte da tiragem foi doada para bibliotecas e instituições de ensino da rede pública.