Quando decidiu deixar o emprego em uma rede de hotéis de Cuiabá para investir no próprio negócio, Mackenzie Nascimento, de 44 anos, sonhava em levar outro tipo de gastronomia para bairros periféricos, como o Dom Aquino, onde mora com a família. Durante 27 anos, ele passou por vários trabalhos no ramo gastronômico e aprendeu, por exemplo, a preparar com maestria os blends de carne que usa para fazer hambúrgueres artesanais na Pit Dog. 

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No cardápio, a hamburgueria tem lanches que vão de R$ 12,99 a R$ 49, todos preparados com hamburgueres artesanais. O "Leônidas", que tem nome de guerreiro espartano, leva 140 gramas de carne e sai por R$ 27. O lanche já virou sucesso entre os clientes, assim como hamburguer feito em homenagem a Cuiabá, que leva carne seca e banana frita, além de 140 gramas de carne. 

Outro sucesso é o Sweet Onion, com cebola caramelizada, que sai por R$ 20. O hamburguer mais caro do cardápio, vendido por R$ 49, é o "Insanos". O nome faz referência aos três andares de carne, queijo e ovo frito. São quase 800 gramas de hamburguer artesanal. 

Há dois meses, ele, a esposa Jaqueline Hortiz, de 42, e a filha Daniely Lauany, de 24, trabalham na hamburgueria, que também vende crepes e macarrão express (que pode ser montado na hora pelos clientes), na Praça Gonçalo de Almeida Botelho, no bairro Dom Aquino, em Cuiabá. 



Nos 16 anos em que trabalhou no setor da gastronomia, Mackenzie passou pela hamburgueria Cozinha dos Fundos e foi maître-executivo do Malai Manso Resort. A experiência no mercado e conhecer a realidade das periferias fez com que Mackenzie começasse a sonhar com um empreendimento para as comunidades periféricas. 

Mackenzie é de Goiânia, mas mudou para Cuiabá com a família quando ainda era criança e diz se considerar cuiabano. (Foto: Olhar Direto)

“Ninguém até hoje quis investir mesmo e levar isso também para a periferia. É sempre focado nos bairros ‘mais elegantes’, nos shoppings ou nos centros. A classe média também quer comer um hambúrguer bom e merece isso. As pessoas saem daqui para comerem coisas diferentes em outros lugares.  Então, porque não trazer para dentro do bairro?”. 

Antes de abrir o Pit Dog em um ponto fixo, Mackenzie teve um food truck que estacionava por outros bairros e praças de Cuiabá. No entanto, o desejo de empreender no lugar em que mora com a família sempre falou mais alto. 

“Meu desejo foi levar esse amor pela gastronomia para o bairro em que vivemos, procuramos um lugar dentro da nossa própria região. Aqui na praça tem um telão, que é colocado por iniciativa de outro estabelecimento. O Dom Aquino é um bairro muito tradicional, muitas famílias moram aqui”. 

Mackenzie explica que o bairro Dom Aquino ainda é estigmatizado como violento, no entanto, ele exalta o potencial de crescimento e a tranquilidade de morar na região. Antes, ele morava no bairro Bela Vista, em Cuiabá, onde permaneceu por 16 anos até conseguir comprar o imóvel próprio. 

“Hoje é um bairro super tranquilo, as pessoas ainda sentam na frente de casa para conversar ou tomar uma cervejinha com os vizinhos. A comunidade sai de casa para assistir o jogo aqui na praça, por exemplo. Aqui as pessoas ainda se chamam pelo nome. Quando vim para cá, fui muito acolhido”. 

No primeiro dia de funcionamento, Mackenzie lembra ter vendido pouquíssimos lanches. No entanto, não se deixou abater e segue persistindo no sonho de empreender na periferia. Além do bairro Dom Aquino, ele deseja expandir para novos pontos da cidade, mas sempre focando em comunidades periféricas. 

“Empreender é um pouco mais desafiador do que trabalhar para alguém, aqui não temos horário, durmo e acordo pensando no emprego. Aqui é nosso meio de vida agora, nossa sobrevivência. Mas acredito que um sonho não tem preço. Para voar, primeiro você precisa pular”. 

Cebola caramelizada e maionese de limão siciliano 

Para levar novos sabores ao bairro Dom Aquino, Mackenzie decidiu colocar ingredientes diferenciados nos hambúrgueres que prepara no Pit Dog. A cebola caramelizada, o ketchup de goiabada e a geleia de pimenta, por exemplo, viraram sucesso entre os novos clientes que, aos poucos, vão se tornando fiéis. 

“Temos também a maionese de limão siciliano que mando com o lanche. São sensações e sabores novos que queremos trazer mesmo. Vemos que o público daqui está querendo provar comidas diferentes, principalmente os jovens, que são muito ligados com a internet. Quando abre uma hamburgueria nova, eles já querem experimentar. Só que estavam acostumados a ver isso longe de casa”. 


Hamburgeria abriu há dois meses em praça do bairro Dom Aquino. (Foto: Olhar Direto)

Natural de Goiânia (GO), Mackenzie decidiu colocar um pouco da cidade natal no empreendimento em Cuiabá. Ele brinca que Pit Dog é o baguncinha dos goianos e chegou a ser tombado como patrimônio estadual. 

“Lá em Goiânia a gente não fala que vai comer um baguncinha, falamos que vamos no Pit Dog. O creme que vendemos, que é a polpa de fruta batida com leite condensado e creme de leite, também é tradicional dessas lanchonetes de lá. Fica tipo um sorvete. Coloquei no cardápio também para os cuiabanos experimentarem”. 

Mackenzie se mudou com os pais para Cuiabá quando ainda era criança. Movido pelas histórias que prometiam achar ouro no meio da rua em terras cuiabanas, o pai dele deixou Goiânia com a família em 1986. 

Em Cuiabá há mais de 30 anos, Mackenzie casou com uma cuiabana. A neta Agatha Sophia, de três, costuma ficar na hamburgueria brincando de atender os clientes. Com um mini avental, igual ao da avó e da mãe, a pequena conquista o coração de quem passa pela praça. 

O pai, que faleceu durante a pandemia da covid-19, não conseguiu achar as sonhadas pepitas de ouro em Cuiabá. Mas, Mackenzie conta que algumas gerações depois, achou as próprias pedras preciosas na terra que o acolheu. 

“De certa forma eu fiz o meu ouro, né? Achei outras formas de peneirar e de garimpar através da gastronomia. Já me considero um cuiabano”.

O Pit Dog não cobra entrega para os moradores do bairro Dom Aquino, já que Mackenzie prioriza que a comunidade da região possa experimentar os lanches preparados por ele. Os pedidos podem ser feitos pelo IFood ou pela plataforma própria da hamburgueria. 
 

 

 

 

 

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