O governo cubano decidiu hoje abrir seu espaço aéreo a aviões dos Estados Unidos para que sejam tiradas da base militar de Guantánamo as vítimas do terremoto que atingiu o Haiti na terça-feira.
O anúncio foi feito em Washington pela Casa Branca. Nos primeiros trabalhos de resgate que se seguiram à tragédia, que pode ter causado até 50 mil mortes, segundo a Cruz Vermelha, as equipes de resgate norte-americanas transferiram alguns feridos para sua base de Guantánamo, que fica no leste de Cuba, perto do Haiti.
De lá, algumas devem ser levadas para a Flórida. O uso do espaço aéreo cubano tornará as viagens para Miami mais rápidas.
O porta-voz da Casa Branca, Tommy Vietor, explicou que a medida encurtará o tempo de voo em 90 minutos. Ele ainda não soube precisar, no entanto, quantas viagens poderão ser feitas com base neste acordo.
Já existem tratados em vigência que autorizam o uso do espaço aéreo de Cuba em casos de emergências médicas, mas agora as duas partes concordaram sobre a necessidade de ampliá-los.
Cuba é submetida a um embargo econômico imposto pelos Estados Unidos desde a década de 1960.
Fidel
Em um artigo publicado ontem, o ex-presidente cubano Fidel Castro se referiu ao terremoto que atingiu o Haiti nesta semana e atribuiu em parte suas graves consequências às precárias condições em que vive o país centro-americano há décadas, com seguidos golpes de Estado militares e altíssimos níveis de pobreza.
Ex-colônia francesa, o Haiti conseguiu sua independência em 1804, tornando-se a primeira república negra das Américas. Mais recentemente, após anos de instabilidade política, em 2004 o país passou a estar sob a intervenção da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah), encabeçada pelo Brasil.
"O Haiti é um produto bruto do colonialismo e do imperialismo, de mais de um século de emprego de seus recursos humanos nos trabalhos mais duros, das intervenções militares e da extração de suas riquezas", disse. "Situações como a deste país não deveriam existir em nenhum lugar da Terra", complementou Fidel.
Para ele, "não se pode culpar" as potências pelo fenômeno natural que atingiu o Haiti. No entanto, o ex-presidente ressaltou que Cuba "não concorda" com as políticas implementadas no país, que é o mais pobre do Hemisfério Ocidental, com 80% de seus quase 10 milhões de habitantes vivendo abaixo da linha de pobreza.
No artigo, Fidel Castro ainda destacou o trabalho dos mais de 400 médicos cubanos que já vinham atuando no Haiti e que agora participam dos resgates das vítimas. Além disso, indicou que centenas de jovens haitianos estudaram medicina em escolas cubanas e também poderão colaborar.
"Sentimos orgulho da cooperação que, nestes momentos trágicos, os médicos cubanos e os jovens médicos haitianos formados em Cuba estão prestando a seus irmãos do Haiti", disse.