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Segunda-feira, 29 de abril de 2024

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Acusado de ‘fanatismo’, grupo vigia cubanos e denuncia delitos

Foto: Lucas Bólico\OD

Ao centro, de azul claro, Luz Maria Zamorra Garcia, coordenadora municipal do Conselho de Defesa da Revolução (CDR) de Havana

Ao centro, de azul claro, Luz Maria Zamorra Garcia, coordenadora municipal do Conselho de Defesa da Revolução (CDR) de Havana

O asfalto da rua é a única coisa impecável que se vê na paisagem urbana nas vielas de Havana, local em que os turistas não chegam. Todas as habitações são velhas e estão caindo – literalmente – aos pedaços. As infiltrações e a falta de pintura nas paredes que delimitam menos de 5 metros quadrados de uma das casas em que mais de 20 membros estão reunidos lembram a todo o momento as dificuldades financeiras impostas pelo regime. A reunião que acontece ali é política, mas apesar do que se pode imaginar, os membros não são opositores. A organização acontece periodicamente para exaltar e manter viva a ditadura comunista.


“Somos a base da revolução”, me garante Luz Maria Zamorra Garcia, coordenadora municipal do Conselho de Defesa da Revolução (CDR) de Havana. “Temos pelo menos uma sede em todas as quadras de Cuba”, explica. Em resumo, o trabalho dos membros do CDR é garantir que o ‘sistema’ funcione como manda a cartilha do Partido Comunista Cubano. Para isso, vale vigiar os compatriotas em nome da manutenção do status quo. “Só cuidamos para que não hajam delitos”, simplifica Garcia.

Pergunto mais de uma vez qual a natureza dos delitos que devem ser evitados, mas as respostas são evasivas. “Delitos” está, na fala de Luz Maria, no plural, mas de concreto, a coordenadora do CDR só exemplifica a prática do roubo. Um dia antes, um cubano já havia me antecipado como atua o conselho, grupo que, em sua ótica, é composto por extremistas. “São uns fanáticos que trabalham de graça para o regime e ficam vigiando os cubanos. Eles estão em toda a parte”, disse-me Jorge, um segurança de uma das escolas de Havana.

“Se eu comprar uma televisão nova, posso ser denunciado para a polícia, se eu tiver um pequeno estoque de carne, também posso ser denunciado”, acusa. “Posso ficar mais tempo preso por ter carne em casa do que por matar alguém. Isso aqui não é mais um socialismo, é uma ditadura”, queixa-se.

Os membros do CDR estão em todos os cantos, sem identificação alguma, infiltrados no meio dos cidadãos cubanos. O conselho é o grupo politico com mais filiados em toda Cuba, ganhando, inclusive, do partido único do país. “Todos os cubanos que estão ligados a algum movimento, seja rural, feminista, ou ao partido também são membros do CDR”, diz a coordenação. Mas o quadro apresentado por Garcia não tem os mesmo contornos orwelianos da narrativa de Jorge.

“Não vigiamos a vida privada de ninguém, mas se tem, por exemplo, um cubano que não trabalha e é acusado de ter feito um roubo e polícia pergunta onde ele está morando ou escondido, temos o dever de contar”, afirma a coordenadora municipal. Além de não ganhar um tostão pelo trabalho, os membros do CDR ainda pagam poucos centavos mensalmente e uma taxa anual para se manter na organização, que é dividida hierarquicamente por lideranças de diferentes setores.

Não existe benefício de nenhuma natureza para os filiados. Nem poder de reivindicar melhorias para a região, bairro, rua ou quadra o grupo tem. A relação é vertical e unilateral. O CDR apenas acata as diretrizes do partido e os membros fazem tudo o que podem para manter vivo o socialismo cubano. O motivo de todo o trabalho é um só: o amor pelo sistema comunista. Quando visitei o lugar, os membros nada tinham a oferecer, além de atenção, carinho e uma salada de frutas, distribuída em copos descartáveis. Era pouco, mas assim como o trabalho realizado diariamente, era de coração.
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