Logo quando acorda, o universitário e influenciador digital Joseh Figueiredo, de 23 anos, brinca que a primeira tarefa a ser executada no dia é aparecer nos stories para desejar bom dia para os quase 20 mil seguidores que tem no Instagram. Joseh entrou no universo virtual ainda na adolescência, mas se surpreendeu ao descobrir que poderia conquistar a independência financeira à medida em que começou a ser contratado por empresas para campanhas publicitárias na rede social.
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Ao Olhar Conceito, ele explica que costuma construir um storytelling do próprio dia no Instagram e cada detalhe é acompanhado fielmente pelos seguidores, que estranham quando o jovem não aparece para dar bom dia ou mostrar o que está fazendo quase que em tempo real.
“Gravo desde quando acordo, quando vou treinar, onde vou comer… Hoje já virou rotina, sei que não é saudável e não recomendo, mas a primeira coisa que faço é pegar meu celular e desbloquear para dar bom dia. Meu dia não começa enquanto não dou bom dia. Se não faço isso, começo a receber várias mensagens, porque as pessoas se acostumam”.
Para Joseh, a entrada no nicho de “lifestyle”, como é chamado o conteúdo que mostra o cotidiano nas redes sociais, foi natural. Quando começou a publicar vídeos no Instagram, o jovem buscava uma válvula de escape do cenário pandêmico da covid-19, em 2020. Por conta da alta de casos, ele precisou deixar Cuiabá e voltar para Rondonópolis, onde nasceu.
“Acredito que a internet avançou uns 20 anos durante a pandemia. Cursava Direito na Univag, em Cuiabá, sempre gostei muito de assistir filmes e séries. Fazia algumas aulas de atuação no Cine Teatro, sempre fui muito ligado a esse mundo. Comecei a fazer resenhas de filmes e séries nos stories. Quando precisei voltar para Rondonópolis, comecei a mostrar meu dia a dia”.
O conteúdo sobre filmes e séries fez com que mais e mais seguidores chegassem no perfil de Joseh, que se viu batendo metas como 10 mil e 15 mil seguidores de forma muito rápida. Aos poucos, ele começou a perceber que as postagens sobre o dia a dia eram motivo de curiosidade e sempre bem recebidas pelos seguidores.
No início, Joseh chegou a relutar em se tornar um influenciador digital, já que queria permanecer apenas no nicho de filmes e séries. Quando começou a perceber quão longe seu conteúdo podia chegar e o carinho que recebia dos seguidores, o jovem decidiu tentar se aventurar no nicho de lifestyle.
“Pessoas que trabalharam o dia todo, tem uma realidade completamente diferente da minha e às vezes usam meus conteúdos como válvula de escape, seja para aprender algo ou para dar risada. Já recebi de uma pessoa contando que assistia meus vídeos no horário de almoço, não tem nada que vale mais do que isso”.
Apesar do afeto que encontrou no Instagram, Joseh também conheceu o ódio disseminado por perfis falsos nas redes sociais, conhecidos como “haters”. Na primeira vez em que recebeu um texto com ofensas, ele pensou em parar de gravar conteúdo.
“Fiquei muito mal nesse primeiro texto, quis parar de gravar. Não tinha um psicológico tão forte, mas isso vai mudando com o tempo, vai percebendo que tem coisas que não temos que focar, quando não é construtivo e vem de alguém que nunca construiu nada, está ali só para julgar ".
Ele avalia que, na maioria das vezes, o conteúdo vem de perfis falsos, que são usados para externar sentimentos de frustração ou inveja do que se vê nas telas dos celulares.
“Sei o que passo para dar a cara tapa ali todo santo dia. Seja feio, com espinha, mostrando a realidade ou em um dia não muito legal. Tem muitas pessoas que admiram quem faz isso mas não tem coragem ou vontade de ter a constância. Geralmente, esses comentários vêm de pessoas frustradas com elas mesmas, pode ser uma inveja ou uma frustração”.
Instagram como ferramenta de trabalho
Para alguns, as postagens sobre o cotidiano de Joseh podem parecer desinteressantes, mas os números cada vez maiores do jovem chamam atenção de empresas, que o contratam para campanhas publicitárias no Instagram.
“Não imaginei que isso aconteceria. Acho que a maioria das pessoas não sabem, mas o Instagram não paga nada para os influenciadores. Ganho pela publicidade das empresas que se identificam com meu perfil para ser porta voz da empresa delas. Sempre quando falo sobre isso fico muito feliz, porque hoje consigo fazer tudo com uma renda só do Instagram”.
Joseh ainda se lembra da primeira publicidade que fechou, ainda em 2020, para uma marca de bolos de pote. Desde então, não parou mais de ser contratado para campanhas publicitárias. A seriedade como encara o trabalho, fez com que os pais do jovem entendessem que o Instagram se tornou, de fato, uma profissão.
No Instagram, Joseh descobriu nova profissão e possibilidade de conquistar independência financeira. (Foto: Arquivo pessoal)
“Primeira vez que fiz uma publicidade e nem acreditei que uma pessoa estava me pagando para representar algo, me senti muito importante de ter essa voz. Foi incrível porque o primeiro dinheiro que ganhei comprei ferramentas para melhorar meu trabalho”.
Agora, Joseh brinca que quando a mãe vai ao mercado, por exemplo, sempre pede para alguém no caminho seguir o perfil do filho no Instagram.
“Quando comecei minha mãe teve receio, todo mundo falava que era só uma fase. Hoje em dia não peço dinheiro dos meus pais para nada, se preciso de algo vou lá e compro, assim como quando quero presenteá-los, vou lá pego meu dinheiro e compro. Com o dinheiro entrando, eles começaram a dar mais credibilidade e valor nisso. Agora minha mãe vai ao mercado e diz: segue meu filho”.
Apesar de não depender mais financeiramente dos pais, o jovem sonha em crescer cada vez mais como influenciador digital para poder proporcionar momentos e condições melhores para as pessoas que ama.
“Minha meta é conseguir proporcionar o máximo para minha família e para as pessoas que sempre acreditaram em mim, não só meus seguidores, mas meus amigos que sempre me apoiam e me ajudam a fazer os trabalhos. Quero muito proporcionar momentos que eles nem imaginam que eu poderia”.
Carreira no Direito
A faculdade de Direito foi uma das condições para que se mudasse para Cuiabá para fazer um curso de atuação no Cine Teatro. Apesar de estar na reta final, Joseh não pretende atuar como advogado e já sonha em se formar em Publicidade e Propaganda.
“Agora é o que condiz com minha profissão. Estou focado para entregar o TCC, gosto muito, mas não é algo que quero para mim no momento, prefiro mostrar meu dia a dia e ter esse contato com as pessoas”.
No mundo digital, a influenciadora e empresária Bianca Andrade, conhecida como Boca Rosa, é uma das grandes inspirações de Joseh, que sonha em poder desenvolver a própria marca, assim como Bianca.
“Ela é excepcional e uma mulher incrível. É uma inspiração para mim, porque ela nunca desistiu. Penso em empreender como ela, quero ter marcas de roupas, óculos… Quero que a pessoa use minhas peças no dia a dia dela”.
Publicar fragmentos do dia a dia nas redes sociais pode parecer um trabalho simples, no entanto, o jovem ressalta que muitas etapas acontecem por trás das câmeras. Além dos processos de edição e produção, Joseh ainda precisa lidar com as mensagens negativas, que mesmo não sendo maioria, costumam chegar.
“Precisa ter um psicológico muito bom para estar ali e ouvir tanto coisas boas quanto negativas todo santo dia. Não é postar dez enquetes em um dia e sumir por uma semana ou um mês, você tem que estar ali e ter uma frequência. Isso é o mais difícil: ter uma frequência e entender que não mandamos no algoritmo. O rolê é persistir e continuar, porque uma hora vai dar certo”.
O primeiro vídeo de Joseh a viralizar ensinava os que estavam interessados em entrar no mundo digital, a perder a vergonha de gravar stories. O conteúdo se espalhou rapidamente pela internet e surpreendeu o jovem.
“Como fazia o curso de atuação, dei dicas e macetes para começar. Porque todos estavam querendo começar algo na internet, recebia muitas mensagens de pessoas desabafando. Tem muitas pessoas em Mato Grosso que trabalham com internet, mas ainda é muito difícil as empresas acreditarem”.
Sonhador e determinado, Joseh pretende tirar o DRT de ator para poder atuar na área, algo que sonha desde criança.
“Para tirar o DRT existem duas maneiras: fazendo diversos cursos avulsos ou a faculdade de artes cênicas. Optei por fazer vários avulsos, já fiz com o Wolf Maya de férias e o Caio Castro, com várias pessoas para juntar essas horas contínuas. Só que estou em época de TCC e dei esse tempo para me organizar. Mas é um sonho e algo que eu quero mesmo”.