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Segunda-feira, 29 de abril de 2024

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O que podemos aprender com o depoimento desta garota de 19 anos que viveu um relacionamento abusivo

O que podemos aprender com o depoimento desta garota de 19 anos que viveu um relacionamento abusivo
Um triste relato deu o que falar nas redes sociais. A estudante de odontologia Poanka Faleiros, de 19 anos, foi muito corajosa ao denunciar um relacionamento abusivo: ela contou a sua história. O rapaz com quem namorava chegou a arrastá-la no chão pelos cabelos.

A fim de conscientizar outras mulheres sobre relacionamentos abusivos, Poanka conta como tudo começou e que ela chegou a perdoá-lo várias vezes, mas ele ia cada vez mais além. “Ele pegou a senha do meu celular, eu não podia falar com meus amigos porque eram homens; e com as minhas amigas porque eram putas. E foi perdoando que entendi todo o limite que um relacionamento pode chegar, achando que ciúmes é ‘bonitinho'”, escreveu.

“Estávamos brigando e deixei minhas maquiagens caírem no chão e ele chutou. Quando a briga começou a esquentar, eu sentei em frente ao prédio e foi onde tudo aconteceu. Como eu não estava respondendo mais para a briga não continuar, ele me puxou pelo cabelo e me arrastou no chão, literalmente”, contou Poanka ao G1.

Veja o depoimento completo abaixo. A gente garante que vale a pena a leitura e que temos muito pra aprender – homens e mulheres:

“Ele foi no meu aniversário. Disse a minha irmã que era a pessoa mais maravilhosa que conheceu. Me disse as melhores palavras e carinhos. Me apresentou a família, disse que eu era a mulher dos filhos dele. Ele me mimou, me encheu de carinho e me chamava de ‘minha’.

Ele pegou a senha do meu celular, viu uma conversa passada e ficou com ciúmes. Me chamou me mentirosa, ingrata e que não merecia o respeito e a confiança dele, mas que me perdoava e voltaríamos porque ele ia me dar uma nova chance.

Eu não podia falar com meus amigos, pelo fato deles serem homens, e por me alertarem fazia deles apenas pessoas com segundas intenções. Eu não podia sair com minhas amigas, elas eram putas. Eu era puta. Eu era piriguete por já ter ficado com outras pessoas. Eu não merecia a confiança de uma pessoa que só me amava e eu só destruí essa confiança.

Eu falei com um amigo que encontrei na festa. QUEM ERA ELE? VOCÊ JÁ FICOU COM ELE? VOCÊ CONVERSA COM ELE? VOCÊ É UMA PUTA, VOCÊ JÁ FICOU COM TODOS, VOCÊ NÃO É SER HUMANO, VOCÊ NÃO É GENTE, VOCÊ NÃO É DIGNA DE RESPEITO.

Acordamos. Após a briga, ganho mimos, juras de amor, promessas que nunca foram cumpridas. Ele nunca mais ia me xingar, me humilhar, ia cuidar de mim e que eu era a mulher da vida dele. Não há outra pessoa no mundo que ele via a não ser eu.

Perdoei. Procurava justificativas em vão, tentando colocar na minha cabeça que ‘ele tem razão, se fosse ao contrário não ia gostar’, ‘ele agiu pelo impulso’, ‘foi o calor do momento’. Tentei falar pros meus amigos que esse ‘era o jeito dele’, que foi apenas uma briga. Eu juro que a gente se amava, ou achava que amava.

Ele invadiu minha privacidade de novo. Minhas amigas são putas, falam de homens, brincam sobre a beleza deles. Eu sou puta, eu entrei na brincadeira. Eu não sou gente, não sou digna de estar com uma pessoa como ele. Dessa vez, xingamento não foi o limite, fui empurrada da casa, bateu no carro com a mão ao ponto de amassar, meu celular sentiu a queda até o chão inúmeras vezes até um amigo separar. Eu sou puta, tinha um novo contato de um menino no celular, apesar de ser da faculdade. E então acordamos. Sou a mulher da vida dele e isso nunca mais vai acontecer. Ele chora, como quem quer mostrar sinceridade em sua fala. Eu acredito em melhora. Eu estou exausta, como quem chega ao ponto de acreditar nas ofensas a ponto de evitar briga. É só o calor do momento.

Vou pra festa da minha amiga puta, onde aparentemente, por ser uma também, teria ficado com todos que ali estavam. Me calei para evitar briga. Falei com o meu antigo melhor amigo, crime gravíssimo. Não sou gente, sou mentirosa, não mereço alguém maravilhoso assim como namorado. E então quero levá-lo até o carro para que não haja mais briga. A exaustão me cala. Assim, pelos meus cabelos minha cara vai de encontro ao chão. Desculpa, eu cai. Cai sozinha. Me machuquei apenas sozinha.

E foi assim que meu relacionamento acabou com ajuda da polícia. E foi assim que acabou mais um dia normal para inúmeras mulheres, que sofrem com seus relacionamentos abusivos, com ciúmes, com esse falso poder de posse. Foi assim, que mais uma vez, um casal acabou a briga com o pensamento ‘foi só uma briga, se fosse ao contrário eu não ia gostar’. Foi perdoando que estendi todo o limite que um relacionamento pode chegar, e achando que era briga de casal, que ciúmes é ‘bonitinho’. Precisei me afastar de todas as pessoas que eu amo por ameaças, precisei regular minhas saídas (não digo pra festa, digo para casa de amigas, comércios, confraternização). Rede social virou dica para saber com quem estava sendo infiel. Eu nunca imaginaria que chegasse aonde chegou, muito menos meus amigos que já presenciaram diversas vezes seus episódios abusivos. Eu nunca pensei que isso estava ocorrendo comigo.

Eu agradeço eternamente por existirem pessoas que hoje me apoiam e estão comigo. Que me amam, que se sensibilizaram por mim. Fico triste pelo autor e família conseguirem ver isso como algo normal, como um exagero da minha parte, a alegarem que ‘cai sozinha’. Como podem colocar seres humanos no mundo e os privarem de ter EDUCAÇÃO? Como posso dormir com dores no corpo inteiro se este está ileso? Como posso me agonizar limpando meus machucados enquanto na delegacia o monstro fala ‘independente da fiança eu pago, tenho dinheiro’ a ponto de não saber educar sua cria? Como posso passar todo dia pela vergonha de todos ficarem me encarando com a cara machucada, se na cabeça da cria ele agiu certo, afinal, eu instiguei isso nele, eu sou puta.

COMO POSSO VIVER EM UM MUNDO ASSIM?”

O namoro terminou na 21ª Delegacia de Polícia Civil de Taguatinga Sul (DF). Ela também disse em entrevista que o rapaz de 21 anos pediu, olhando nos olhos dela, que a queixa fosse retirada. “Ele disse que eu caí sozinha”.

O rapaz foi preso em flagrante, responde por lesão corporal e injúria, com agravante da Lei Maria da Penha. Foi liberado após pagar fiança de R$ 2 mil.

O mapa da violência contra a mulher deste ano aponta que ocupamos o 5º lugar em assassinatos bárbaros, perdendo para Rússia, Guatemala, Colômbia e El Salvador. Aqui 13 mulheres são mortas por dia – por serem mulheres. E cerca de 50 mil mulheres são estupradas por ano e não denunciam seus agressores por medo.

Imagens: Divulgação e Reprodução Facebook
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