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Segunda-feira, 29 de abril de 2024

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Especial de Natal: Um abrigo de histórias chamado 'Bom Jesus': conheça os idosos da casa de Cuiabá

Foto: Naiara Leonor/ Olhar Conceito

Especial de Natal: Um abrigo de histórias chamado 'Bom Jesus': conheça os idosos da casa de Cuiabá
Muita gente acha ruim envelhecer, esconde a idade, deixa de comemorar os aniversários para tentar esconder a verdade de que o tempo passa. Mas as coisas mudam com o passar dos anos e chega um momento da vida que a chegada do dia de assoprar as velinhas torna-se motivo de orgulho e sinônimo de experiência.

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E se tem um lugar em Cuiabá em que esse conhecimento da vida sobra é no Abrigo Bom Jesus. Lá as marcas das muitas primaveras podem ser vistas no corpo, mas a sabedoria da vida só é revelada para aqueles que dedicam mais do que um breve olhar aos seus moradores.

Infelizmente, muitos dos residentes do Abrigo foram abandonados por suas famílias que não souberam lidar com as limitações físicas que o tempo trouxe a eles. Ainda bem que nesse mundo nem todo ser humano é igual e existem pessoas como a Dona Zilda, a enfermeira Fernanda, o cuidador José e muitos outros funcionários, voluntários e familiares que fazem os dias dos idosos do Abrigo mais felizes. Com a aproximação do Natal, a falta da família é mais sentida, mas é amenizada pelo carinho dessas pessoas.

Dona Zilda Lira de 74 anos, voluntária do Abrigo há 20 anos, cultiva amizades nesses anos de doação de afeto. Ela que foi diretora do abrigo das crianças, que hoje já não existe mais, diz o porquê comparece ao local todos esses anos: “Como idosa que sou, quero dar o que gostaria de receber sempre, amor, amizade das pessoas, carinho. Não é só presente e comida, é mais o interagir”.

Com o horário de visitas das 14h às 16h, os velhinhos do Abrigo acabam passando o horário da Ceia de Natal e a maior parte do dia da festa em companhia apenas dos funcionários do local e por isso a atenção e dedicação deles é tão importante.


O cuidador José 


O cuidador José, disse que começou na limpeza e hoje se dedica ao amparo dos idosos da casa. Na profissão por vocação e vontade há 16 anos, a realização e emoção ao falar de seu trabalho é notada nos olhos. “Vou passar o dia do Natal com eles de novo, gosto de conversar e cuidar deles. Alguns tem a família que aparece, outros se alegram quando voluntários aparecem para conversar”.

Dentre os 97 residentes do Abrigo Bom Jesus, dois deles compartilharam parte de suas histórias.

Criadora de memórias


À esquerda Beth com sua amiga Dona Zilda à direita. 


A vaidosa e comunicativa Beth tem 64 anos, é mineira e está no Abrigo a um ano e quatro meses, foi morar no local por ação judicial depois que seu ex-marido a abandonou. A história triste de como chegou casa de idosos é diferente do momento em que vive, hoje ela é noiva de Seu Pedro, outro residente do Abrigo, os dois estão de casamento marcado.
Beth conta que estudou Psicologia no Centro de Ensino Unificado de Brasília (Ceub), lecionou por um tempo, cursou Biologia na Universidade de Brasília (Unb). Dentre os momentos mais irreverentes da vida, Beth revela que fez um curso de “para-psicologia” com o Padre Quevedo.

Após a conversa com Beth, descobri pelos funcionários do Abrigo que ela apresenta sintomas de Esquizofrenia, como fuga da realidade e criação de situações e lembranças. Isso quer dizer que nunca vou saber a real história dela, mas sei que se ela pudesse teria vivido todos os momentos que me contou naquela manhã e isso já basta. O relato imaginário ou não dela me contou mais sobre quem ela é do que sua história real, porque somos mais do o mundo nos limita.

Persuasor de pão duro


Seu Daniel

Seu Daniel, um senhor simpático de 81 anos era vendedor e pela conversa fácil acredito que era dos bons, daquele que levava os clientes na conversa e convencia até pão duro a gastar. Chegou no Abrigo a pouco mais de três anos por conta das limitações físicas, adquiridas depois de um tombo onde quebrou o fêmur. Hoje na cadeira de rodas, o senhor falador, se diz orgulhoso de ser cuiabano de chapa e cruz e diz que por conta da profissão viajou muito na vida e jogou muita conversa fora. No infinito de memórias ele se emociona ao lembrar-se da esposa, falecida há 12 anos. Até se lembrar das visitas dos netos aos domingos, que é quando o sorriso volta.

Lar de inúmeras histórias, o Abrigo Bom Jesus acolhe a todos aqueles com tempo e disposição para um minuto de atenção, um dedo de prosa e um abraço de amigo.
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