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Terça-feira, 19 de março de 2024

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Birdnesting: o novo divórcio

Birdnesting; ou ‘nesting’. Em tradução, tal expressão significa nidificação de
pássaros. Nidificar, vem de - construir um ninho - o que faz certas aves, que
constroem seus ninhos, e, alternadamente, entram e saem para cuidar dos
seus filhotes.

Assim, o ‘birdnesting’ é a modalidade do divórcio em que os pais revezam de
casa, e não os filhos. Nessa ordem, os legisladores, o judiciário, assim como às
próprias partes envolvidas têm tentado buscar alternativas visando minimizar
os impactos da separação na vida dos filhos, principalmente, quanto ao
aspecto emocional.

Em tempos modernos, acompanhado de um avanço tecnológico de mudanças
aceleradas, os casais divorciados desse milênio, estão cada vez mais
buscando novas maneiras, diante de tantos desafios, e muitos estão mantendo
os filhos na antiga casa em que residia à família, enquanto eles (ex-consortes)
transitam pela propriedade, livremente, com o foco de criar os filhos mais
felizes, fortes e saudáveis emocionalmente, sem mexer ‘uma palha’ no sentido
da alteração da rotina da criança.

Nesse cotejo, é uma proposta de guarda e convivência alternada, no qual os
filhos permaneceriam morando no imóvel anteriormente ocupado pela família,
e os pais passem o tempo relativo a cada um lá, sem qualquer alteração do
seu dia a dia, seja cultural, social, escolar, atividades extracurriculares, amigos,
etc, além de evitar o estresse e cansaço do deslocamento de uma casa para
outra, o que naturalmente, acontece nas outras formas de guarda, sendo que
quem alternaria da residência no lar comum, seriam os genitores, indo para
outro lugar no dia em que se “encontrasse de folga” da
maternidade/paternidade.

Se bem que na prática, uma vez pai/mãe nunca mais existe ‘dia de folga’,
sendo divorciados ou não.

Com isso, o benefício que se busca, é sentir à ‘família unida’, num clima de
crescimento e tranquilidade, amor, respeito, cooperação, autonomia, limites,
empatia, compreensão, alegria, iniciativa e perseverança, de forma a evitar
menos sofrimento, principalmente, para os filhos.

É inegável que muitos casais separados têm severas dificuldades de
comunicação, o que precisaria ser superado, para que algo – inovador - nesse
sentido dê certo.

Aliás, o diálogo é indispensável em qualquer tipo de relação pautada pelas
regras da convivência. Lógico, que uma separação/divórcio é um evento
sempre muito difícil, vez que ocorre o rompimento do laço emocional entre o
casal, assim como o financeiro e patrimonial, sendo que ambos,
separadamente, terão que medicar e curar às suas próprias feridas e
cicatrizes, e esse processo pode levar muito tempo.

O ‘nesting’’, é uma tendência relativamente nova na maioria dos países,
contudo, nota-se um acentuado aumento dessa variante nos Estados Unidos,
Holanda e Áustria.

Tal prática, ainda é tida como um arranjo, transitório ou temporário, usado na
maioria das vezes, apenas na fase inicial de adaptação da separação ou
mesmo por questões econômicas, como, por exemplo, o casal não precisa de
imediato vender o imóvel, o que evitaria gastos com impostos, taxas judiciais,
etc. Até por isso, tal procedimento tem sido ido abraçada por alguns ex-casais.

Todavia, existem críticas no sentido de que isso poderia ser classificado como
uma “casa de reabilitação”, o que atrapalharia os filhos se tornarem resilientes,
ferramenta importante para enfrentar o mundo, e suas lições.

E aos ex-cônjuges, é sempre muito importante, após o divórcio, criarem à sua
independência e uma nova história de vida.

É preciso seguir em frente, ressignificar, porém, é óbvio que os filhos, são e
serão, sempre, a prioridade e o foco de todo o esforço e planejamento de vida
de seus genitores, ou pelo menos deveria ser, separados ou não.

Assim, o “birdnesting” é o novo modelo de divórcio em que os pais revezam
entre uma casa e outra, e as crianças ficam, em seu “ninho”.

Gisele Nascimento é advogada.
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