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Quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

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Os fins justificam os meios?

O filme “Lincoln”, dirigido pelo festejado cineasta Steven Speilberg, retrata parte da trajetória política e pessoal do primeiro presidente republicano dos EUA, através de lentes bastante humanizadas e, até mesmo, libertárias, além de visionárias, com enfoque maior na cruzada tanto pela manutenção da União quanto pela abolição da escravidão, perpetrada durante a Guerra Civil Americana, que levou à morte cerca de um milhão de norte-americanos, entre quase meia-década de tiros de canhão (1861-1865).

Esse longa-metragem também revolve o momento em que o governo Lincoln encontrou grande resistência perante aos democratas e aos Estados Confederados do Sul (latifundiários, aristocratas e escravagistas), os quais encabeçaram o movimento separatista, sem êxito, em decorrência da manutenção da incolumidade da União.

Como dito acima, o governo Lincoln velou e revelou seu compromisso com a causa dos negros, buscando mais do que a abolição da escravidão, defendendo a eles, também, o direito à votação. O que pagou com a vida; assassinado por um fanático, tendo sido alvejado, por um tiro certeiro na cabeça de uma arma calibre quarenta e quatro.

Afora servir para exaltar hodiernamente a figura desgastada dos republicanos, após os sofríveis governos de George W. Bush Pai e Filho, em detrimento da imagem dos democratas, liderados pelo atual presidente Barack Obama, o filme também se propôs a jogar purpurina sobre a máxima maquiavélica de que “os fins justificam os meios”, quiçá, para justificar guerras e demais desatinos praticados pelo país do Tio Sam, aos olhos do mundo inteiro.

Seguindo esse raciocínio, reprovado pela opinião pública, todavia, já enraizado no DNA de vários grupos e campos políticos, o filme advogou a tese de que a troca de favores e as chantagens, entre outros expedientes da mesma natureza, podem ser artifícios não só hábeis como legítimos, na medida em que sirvam para a conquista de um bem maior, como no caso, à abolição da escravidão.

Há quem diga que mais vale contar uma mentira em benefício dos bons propósitos da vida, da liberdade, da igualdade e da fraternidade; do que uma verdade em favor dos maus intentos da morte, da escravidão, da espoliação e do egoísmo que arde.

Porém, me filio à corrente que se contrapõe a máxima maquiavélica. Isso por entender que, sejam os meios ou os fins, a moral individual ou a da responsabilidade, conforme classificação dada pelo próprio Maquiavel já na modernidade, tanto o caminho quanto o destino podem e devem se ajustar aos bons usos e costumes e à boa moral, vigente no tempo e no local, como preconizou Sócrates em “A República”, Cícero em “Dos Deveres” e Jesus em seu “Sermão da Montanha”, além de os ensinamentos morais de Gandhi, Confúcio etc.. Não só quanto à legalidade, mas, sobretudo, à legitimidade, portanto, à justiça formal e substancial e a mais próxima da divinal.


Paulo Lemos – Ouvidor-Geral da Defensoria Pública do Estado de Mato Grosso.

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