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Demanda Efetiva

Autor: Aurelino Levy Dias de Campos e Ernani Lúcio Pinto de Souza

31 Mai 2013 - 10:03

Anteriormente a criação do Princípio da Demanda Efetiva existia a crença econômica de que os custos para os empresários eram as rendas setoriais geradas pelos seus investimentos que se transformariam em gastos de consumo no futuro, o que garantiria o equilíbrio automático do sistema de mercado.

Todavia, a metáfora Mão Invisível, mercado auto-regulável, e Lei dos Mercados, oferta cria sua própria demanda, ruíram a partir da década de 30, como, então, os economistas explicaram aquela crise sobre os fundamentos econômicos vigentes a época com a eclosão da Grande Depressão de 30?

Dois economistas de peso destacaram-se no estudo dessa problemática mundial: Michael Kalecki e John Maynard Keynes.

O primeiro, polonês, sem formação superior completa, porém, seu autodidatismo o levou para Universidades de renome internacional com bolsas de estudos, o que possibilitou sua entrada na Universidade de Varsóvia determinado pelo governo polonês, onde, inclusive, recebeu o título de Doutor Honoris Causa.

Suas contribuições ao debate sobre a crise referem-se, também, ao conceito de demanda efetiva, quando a partir de suas análises, de cunho marxista, apoiado na departamentalização da economia em três setores, departamento I, II e III, sendo o primeiro produtor de bens de capital, o segundo produtor de bens de consumo de capitalistas e o terceiro produtor de bens de consumo dos trabalhadores, chegou a conclusões importantes.

Afirma ele que, como a poupança não determina os níveis de investimentos, a única certeza que se tem é que os gastos (em investimentos) determinam a renda, entretanto, ficaria difícil e incerto saber o quanto se ganhará, fortalecendo ainda mais a necessidade dos gastos em investimentos na formação de estoque de capital (capacidade produtiva).

O segundo, inglês, criado sob a nata do pensamento econômico no ambiente familiar, pois, seu pai, Neville Keynes, era professor em Cambridge, e no ambiente universitário com seus tutores e mentores economistas renomados como Marshall, Pigou, dentre outros.

Em seus estudos, Keynes dedicou-se, assim como Kalecki, ao problema do desemprego provocado pela crise de 30 e a forte argumentação da Lei dos Mercados.

Seu conceito de Demanda Efetiva - ponto de intersecção e inflexão entre a curvas de demanda e oferta agregadas, ambas, com expectativas de renda devido a mão-de-obra empregada em torno do pleno emprego - revoluciona o pensamento econômico.

Para os não-economistas, explicamos mais detalhadamente: como resultado da matemática econômica, após seus gastos em bens de capital, os capitalistas (produtivos) esperam determinado volume de consumo previsto decorrente das rendas geradas no processo das decisões de investimentos, todavia, nem toda renda se transforma ou é gasta em consumo.

Pontualmente, foi o que ocorreu durante a crise de 30, pois, com o boom de empregos estáveis e níveis de produtividade elevados, cresce a renda, logo, cresce o volume de aplicações no mercado de capitais junto as bolsas de valores, e não somente gastos em consumo, numa busca frenética por ativos financeiros das empresas ofertantes de ações ships.
Keynes chamou essa corrida frenética pelo dinheiro (moeda é outra coisa mais ampla) de Preferência pela Liquidez, um dos vetores que podem desviar os recursos dos agentes da variável consumo.

No auge "especulativo" este não encontra a devida contrapartida ascendente do ciclo econômico com maiores volumes de investimentos, sendo que no jogo de oferta e demanda por novas ações e lançadas no mercado de capitais (bolsa de valor, basicamente), criou-se um volume enorme de recursos que desestruturam as negociações reais no mercado primário de ações efetuadas pelos consórcios de investimentos desregulados.

No próximo artigo procuraremos apresentar porque foi importante o conceito de demanda efetiva e agregada para solução dos problemas elevados por aquela crise, que, grosso modo, assemelha-se com a atual crise nos dias atuais.

Aurelino Levy Dias de Campos é Economista do IBGE, Doutorando em Economia pela UNR-Argentina e Presidente do Corecon-Mt.

Ernani Lúcio Pinto de Souza é Economista da UFMT, Ms. em Planejamento do Desenvolvimento pela Anpec/Naea, Vice-Presidente do Corecon-Mt e Conselheiro do Codir/Fiemt.

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