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Domingo, 28 de abril de 2024

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2014: Annus horribilis?*

Qualificar o Ano Velho de mirabilis ou horribilis depende da perspectiva. Surge um sentimento de ambiguidade quando se olha para 2013. Mas quando se trata do Ano Novo, a euforia das festas inspira expectativas alvissareiras.

Como, de fato, não há Ano Novo, mas simbologia útil para medir o tempo e retomar impulsos, pode-se pensar 2014 como a extensão lógica de 2013: um período de avanços e retrocessos. Porém, certas perspectivas desenham 2014 como um annus horribilis.

Com o Carnaval tardio, serão dois meses de preparação do espírito nacional para a esbórnia momesca. O ano político-econômico só ganhará vigor, como sempre, após o depósito das cinzas de nosso cansaço, temores e desejos, na segunda semana de março. E aí já estaremos embriagados pelo clima de Copa do Mundo. O ufanismo futebolístico – com o apoio dos meios de comunicação e seus patrocinadores – dará a tônica no imaginário popular. Sofrerá anátema aquele que criticar a opção do Brasil de sediar a Copa, evento que socializará despesas e privatizará ganhos (sobretudo em benefício da empresa estrangeira FIFA e seus parceiros).

Movimentos sociais, articulados em rede, usarão a vitrine da Copa do Mundo e chamarão a atenção para os males que assolam o país. E isso será feito por meio de protestos, pacíficos ou não, no espaço público. A repressão virá, em nome da ordem.

A inércia intelectual criada pela euforia da Copa do Mundo será estimulada. Será assim se a euforia se converter em depressão (no caso de o time brasileiro ter um mau desempenho no campeonato), mas também se ela for potencializada por eventual vitória brasileira. Assim chegaremos ao ano eleitoral, com propagandas enganosas, discurso estéril e promessas vãs.

Ano eleitoral que já começou. O presidencialismo de conchavos espúrios dará o tom. Notícias destes dias são exemplos do que será a política em 2014: “Dilma oferece cargos para aumentar exposição na TV”. “O orçamento impositivo foi mantido”. Decisões cujos efeitos logo se farão sentir nos índices de corrupção.

Pelas mesmas razões de conveniência e coalização, e para agradar as bases, veremos o crescimento da “República Brasileira dos Direitos Humanos”, baseada na degradada visão oficial destes últimos. Veja-se o caso das cotas para concursos públicos e também para parlamentares: dois casos que desprezam a lógica humanística inegável nas cotas para a educação e incitam divisão desnecessária.

Como não quero ter razão, fica o desejo: que 2014 seja um Annus Mirabilis!

Caleb Salomão é advogado com pós-graduação lato sensu em Direito Tributário e Direito da Economia e da Empresa e Mestrado em Direito Constitucional.

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