A despeito dos tempos difíceis em 2014, o Brasil teve uma performance relevante no número de fusões e aquisições. Estudo da PwC revelou aumento de 8,25% nas transações em relação ao ano anterior: foram 812 negócios em 2013 e 879 em 2014.
Interessante notar o fato de que o volume recorde de operações de M&A ocorreu em um período de expectativas no mínimo receosas. “O ano de 2014 acabou sendo melhor do que o que todo mundo imaginava que seria em seu início. O primeiro trimestre foi fraco, mas depois ganhou tração e acabou sendo um bom ano.” A afirmação é do advogado Fernando Alves Meira, coordenador da área Empresarial do Pinheiro Neto Advogados.
O advogado destaca o “calendário complicado” de 2014, com o Carnaval em março, Copa do Mundo em junho e as eleições em outubro. “Tipicamente em eleições todo mundo fica muito mais conservador, pois não sabe o que vai mudar, e acaba adiando a decisão de fazer uma transação estratégica, à espera das novas políticas.”
Segundo o relatório da PwC, houve um aumento significativo de transações nos meses de agosto e setembro e, após esses dois períodos, uma significativa diminuição até dezembro. Das transações anunciadas, a região Sudeste liderou com 71,7% dos negócios.
Sérgio Ricardo Fogolin, sócio da área societária do Siqueira Castro Advogados, corrobora a informação de um ano tumultuado. Segundo Fogolin, o ano que ficou para trás foi de "represamento, principalmente das empresas estrangeiras para novas aquisições no Brasil", e as eleições também tornaram o contexto político-econômico desconhecido.
Assim, salta aos olhos os números de três das principais bancas do país. O Pinheiro Neto Advogados registrou 37 operações de M&A, sete a mais que em 2013. A banca atuou pela GVT em sua compra pela Telefônica; na saída do banco ING do capital da Sulamérica; e encerrou o ano atuando para o Carrefour Brasil na venda de 10% da companhia para o empresário Abílio Diniz.
O escritório Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados teve cerca de 40 operações anunciadas, incluindo a atuação também na compra da GVT pela Telefônica. A advogada Adriana Pallis Romano, sócia da banca na área de M&A, ressalta: “Em 2014 tivemos um movimento bastante satisfatório em termos de operações de M&A.”
Por sua vez, o Siqueira Castro Advogados registrou aumento de 50% em relação a 2013 em número de operações e crescimento de valor envolvido em torno de 250%.
Horizonte à vista
De olho no contexto econômico para 2015, os escritórios se preparam para grandes negócios notadamente a partir do 2º trimestre.
Para Adriana Pallis, a expectativa é de um ano movimentado. “Nossas equipes estão bem dimensionadas para atender às necessidades das operações de M&A. Nosso maior investimento deverá ser na formação dos profissionais, efetivação dos estagiários e treinamento dos advogados mais jovens que estão em fase de crescimento na carreira.”
Sérgio Fogolin crê que o setor deve manter os resultados de 2014, no mínimo. E Fernando Meira vislumbra as oportunidades que devem surgir mesmo em períodos de ajuste econômico e baixo crescimento, eis que “o momento de crise cria muitas oportunidades para quem tem o dinheiro na mão”.
Atividade multissetorial
Os dados da pesquisa confirmam que o negócio de M&A no Brasil continua sendo multissetorial. A diversidade e o dinamismo da economia brasileira devem manter as oportunidades em diferentes áreas durante 2015.
Sérgio Fogolin afirma que pode ocorrer uma concentração em alguns setores da indústria, inclusive com mudanças de paradigmas, “saindo daquela empresa familiar e indo para uma estrutura de uma governança muito mais sólida, com empresas de capital aberto”.
O advogado Fernando Meira comenta que as construtoras envolvidas nos problemas da Petrobras podem ter que vender ativos (concessionárias de estradas, aeroportos, portos) para honrar suas obrigações. E cita também oportunidades no mercado de saúde, após a presidente Dilma sancionar o art. 143 da MP 656/14, que permite investimentos estrangeiros em clínicas e hospitais.
Além desses carros-chefes, as áreas de TI, telecomunicações – ou seja, serviços em geral - devem manter-se aquecidas, segundo a análise dos entrevistados, eis que o Brasil ainda não é um mercado maduro e, justamente por isso, não devem faltar oportunidades.
Tal qual ano passado, os negócios devem prosperar com maior consistência a partir de abril. Esclarece Sérgio Fogolin: “Teremos um cenário um pouco mais claro ao final do primeiro trimestre. E então começamos a ter um direcionamento do que vai ser o ano.”