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Da euforia à tristeza, comitiva mato-grossense contra o impeachment promete: Vai ter luta!

19 Abr 2016 - 10:11

Enviado Especial a Brasília - Jardel P. Arruda

Foto: Jardel Arruda / Olhar Direto

Da euforia à tristeza, comitiva mato-grossense contra o impeachment promete: Vai ter luta!
No começo, muita luz e calor. O sol do domingo (17) que ficará na história de Brasília e do Brasil castigava os manifestantes que teimaram em chegar mais cedo na Esplanada dos Ministérios, às 11 horas da manhã, sem se importar se estavam ali para pedir o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), ou se queria lutar versus um golpe contra democracia. A reportagem do Olhar Direto era a única de veículo online de Mato Grosso posicionada na porta do Congresso Nacional, entre os manifestantes.


Todavia, o sol só acompanharia o começo das manifestações que lotaram cerca de 1,5 quilômetro do Eixo Monumental, na Esplanada dos Ministérios. Quando a onda amarela e a onda vermelha começaram a ocupar, cada uma em um momento diferente, mas foi o céu noturno que viu a saída dos dois movimentos, um eufórico, outro desolado, cerca de 12 horas depois do início das concentrações.

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E em meio a toda multidão, calculada pela Polícia do Distrito Federal em aproximadamente 79 mil pessoas, estavam mato-grossenses que deixaram o Estado em ônibus e viajaram mais de 18 horas para protestar. Parte contra, parte a favor do impeachment. Enquanto um lado voltou para casa com a sensação de “ganhamos”, os contrários ao impedimento voltam com a angustia de uma derrota importante e a necessidade de reverter a “guerra”.


Grupo contra impeachment indo embora para o Acampamento Nacional a Favor da Democracia e Contra o Golpe

Mobilizados contra o que consideram um golpe motal à democracia brasileira, a comitiva mato-grossense contrária ao impeachment marchou do Acampamento Nacional em Defesa da Democracia e Contra o Golpe, no Ginásio Nilson Nelson, até a Esplanada dos Ministérios. Foram 4,2 quilômetros sob o sol a pino, acompanhados de mais de 20 mil pessoas para se juntar a todos que lá já estavam.

Depois, 4,2 quilômetros de caminhada quase silenciosa de volta ao ginásio. Em todo percurso, contas para saber se há chances de uma articulação política impedir o afastamento de Dilma Rousseff, além da troca de solidariedade entre todos ali. Cabisbaixos, apertavam as mãos de desconhecidos e trocavam palavras de incentivo.



E, se em algum momento alguém de longe, do alto de viadutos ou atrás das linhas policiais os provocavam, davam a resposta em unissono, com palavras de ordem fortes e demonstrando união, apesar do resultado de 367 votos favoráveis ao impeachment e 137 contrários. “Fascistas, golpistas, não passarão!”

Da euforia....

A chegada daqueles que estavam no Acampamento Nacional em Defesa da Democracia e Contra o Golpe foi uma injeção de ânimo a todos que já estavam na concentração da manifestação na Esplanada pra se mostrar contra o impedimento. Como uma providencial “chegada da cavalaria”, resolveram a situação de menor número em relação aos pró impeachment com toda a energia que levaram.

Entre todas essas pessoas, estavam indígenas, negros, sem terra, camponeses cujas terras foram atingidas por barragens, estudantes, ativistas ambientais, membros de coletivos LGBT, professores, aposentados, sindicalistas e todo tipo de minorias e pessoas de baixa renda.



E também militantes partidários do PT, do PDT, PCdoB, PCO, PSOL e outros partidos de esquerda, normalmente separados por desavenças e discordâncias na discussão ideológica, política ou econômica, todos juntos. Para todos eles o momento era de união contra um “inimigo maior”. A visão de todos juntos serviu como uma injeção de adrenalina para quem estava ali.

As juventudes era quem davam o tom de animação ao movimento. O Levante Popular da Juventude se fazia ouvir e contagiava a dançar muitos manifestantes. Mais afastados, outras juventudes gritavam palavras de ordem. “Não vai ter golpe, vai ter luta”, “Fascistas, golpistas, não passarão”.  Juntas, a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) contabilizaram mais de três mil estudantes reunidos ali, oriundos de todos os Estados.

...à tensão...

A primeira onda de votos pelo “sim” não mexeu tanto com a maioria dos manifestantes contra o impedimento. Todos já haviam sido avisados pelos seus líderes que a votação começaria pelos estados cuja maioria era de parlamentares em prol da saída da presidente Dilma. Ainda com o sol no horizonte, todos continuavam animados e entoavam palavras de ordens.



Contudo, a sequencia implacável de derrotas para os pró-impeachment nos três primeiros Estados, Rorâima, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, foi o suficiente para começar a estampar tensão nas faces daquelas pessoas.  No Rio Grande do Sul, em especial, a tensão aumentou devido ao deputado federal Giovani Cherini contrariar a indicação do seu partido, o PDT, e votar favorável ao impeachment.

Isso era o prenuncio de outros parlamentares que seguiriam a sina de “trair” toda trajetória durante a gestão de Luís Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff e “abandonar o barco” de última hora, causando um desequilíbrio na contagem de votos prevista pelo Partido dos Trabalhadores para barra a admissão do processo de impedimento.

...À tristeza combativa

Cada voto contra o impeachment era comemorado como uma batalha vencida. Cada abstenção era apoiada como um voto contra o que ali todos chamavam de golpe – a admissão de um processo de impeachment com bases constitucionais duvidosas, para destituir uma presidente eleita em um clima revanchismo, ignorando o perigo a desequilíbrio dos Três Poderes.


As vezes tensos, as vezes comemoravam como a vitória de uma batalha

E cada voto pelo impeachment aumentava a tensão. Cada deputado que mudou seu voto – como Carlos Bezerra (PMDB), que antes se posicionou contra o impedimento, mas depois decidiu seguir a orientação do PMDB, era uma decepção. Cada deputado com trajetória de luta pelos trabalhadores, por mais que o partido houvesse decidido votar favorável ao impedimento, era esperado com ansiedade.

Os discursos de alguns deputados, que atacavam o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB) – o qual é visto pelos manifestantes contra o impeachment como um dos orquestradores do impeachment ao lado do vice-presidente Michel Temer (PMDB), que atavam a Rede Globo, que faziam alusão ao suicídio de Getúlio Vargas e ao Golpe Militar, mas votavam “sim”, mais tristeza.

Membros da comitiva mato-grossense ficavam tensos junto de todos ali. Entre os mais emocionados estava Edivaldo de Souza, presidente regional da Juventude do PT (JPT), cujo os olhos ficaram marejados quando ele percebeu a impossibilidade da Câmara barrar o impeachment.

Quando tudo terminou e a admissão do impeachment foi aprovada, ele ainda manteve seus liderados unidos para esperar o pronunciamento das lideranças nacionais pelo fortalecimento da luta, pela tomada das ruas. Depois, iniciou a caminhada de volta ao ginásio Nilson Nelson para arrumar as coisas e pegar um ônibus para 18 horas de viagem de volta a Cuiabá.

“Vamos continuar a luta. Primeiro quero dizer que ficou claro para nós o que já sabíamos. É uma Câmara conservadora e que tem lado: o poder pelo poder, o interesse de cada um. Nos pronunciamentos dos votos percebíamos essa vontade deles voltar ao poder a qualquer custo. Mesmo o de um golpe. Durante a semana, tínhamos votos para barrar isso e alguns mudaram de voto de ultima hora. Notamos isso”, resumiu, Edivaldo.


Edivaldo, na esquerda caminhando de costas, a frente do grupo, e na imagem da direita nos momentos de tensão

No rosto dele, a decepção e também a revolta. Maior que a tristeza, a responsabilidade de manter os seus colegas juntos. Fazia contas de senadores e comentava da necessidade de todos irem as ruas para evitar a destituição da presidente Dilma Rousseff.

E a unificação

E para barrar o impedimento, Rayane Dantas, da União da Juventude Socialista e uma das organizadoras da comitiva de Mato Grosso, acredita na necessidade da unificação da esquerda brasileira. Enquanto se preparava para sair de volta para Cuiabá, à 01 hora da madrugada de segunda (18), após chegar ao acampamento e arrumar as coisas, ela ainda não engolia a mudança de votos de alguns parlamentares e a forma como a votação se encaminhou.

“Foi no tapetão, um golpe, descaradamente. Muitas pessoas que já haviam se abstido do voto ou dito não mudaram de ideia em cima da hora por... por sei lá. Por algum motivo... Foi um golpe a democracia brasileira. Mas vamos continuar na luta. Estamos todos voltando para nossos estados para mobilizar. A esquerda vai se unir mais ainda, mudar esse golpe, provar para o Eduardo Cunha que se ele mexeu com o nosso voto, mexeu com o povo”.

Por fim, o sentimento de decepção se misturava a uma certeza entra aqueles manifestantes: Vai ter luta.
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