O governo dos Estados Unidos reconheceu nesta segunda-feira a "ampla vitória" de Porfirio Lobo, candidato do conservador Partido Nacional, nas eleições deste domingo em Honduras e pediu novos passos para a restauração plena da democracia no país.
"Os Estados Unidos tomaram nota das eleições, vemos que [Lobo] as ganhou, e o parabenizamos. Ele será o próximo presidente de Honduras", disse o secretário de Estado adjunto dos EUA para o Hemisfério Ocidental, Arturo Valenzuela, em entrevista coletiva no Departamento de Estado.
Valenzuela disse que a votação cumpriu com os padrões internacionais. Ele defendeu a formação de um governo de unidade em Honduras para reconciliar o país após mais de cinco meses de crise política, agravada pela deposição do presidente Manuel Zelaya, em 28 de junho.
"[As eleições] são um passo à frente muito importante [...] mas o ponto mais importante é que são apenas isso. É só um passo, e não é o último. Não é o suficiente, disse Valenzuela.
Muitos países do continente, incluindo o Brasil e a Venezuela disseram que reconhecer as eleições sem o retorno de Zelaya é legitimar um golpe de Estado, mas os EUA ajudaram na votação com auxílio técnico e observadores, considerando-a uma saída para a crise política. Países como Panamá, Costa Rica e Colômbia seguem a mesma posição.
A política oficial dos EUA até o momento é que se deve respeitar o Acordo de San José/Tegucigalpa --que implica na criação de um governo de união e em uma declaração do Congresso sobre a restituição do presidente deposto Manuel Zelaya, que deve acontecer na quarta-feira (2).
Zelaya já descartou a possibilidade de voltar à Presidência depois dessa decisão e denunciou as eleições como uma fraude.
Contrariando a alegação dos zelayistas de que houve um grande boicote de 70% dos eleitores, o TSE afirmou que a participação chega a 61,3% (quase 10% a mais que em 2005).
A reação, contudo, não foi tão positiva em outros países --que fizeram questão de declarar publicamente seu repúdio ao resultado da eleição.
Bolívia
O governo da Bolívia reiterou nesta segunda-feira sua posição e disse que não reconhecerá a vitória de Lobo.
O vice-presidente boliviano, Álvaro García Linera, disse á imprensa que a posição do governo "foi desde o princípio contundente" no "rechaço ao governo golpista" de Roberto Micheletti e a suas ações.
"Não mudamos nossa posição de defesa da democracia e de rechaço absoluto ao golpismo e a qualquer de suas medidas [...] como a convocatória tão ilegal de eleições gerais".
Linera criticou ainda o trabalho do ex-presidente direitista boliviano Jorge Quiroga (2001-2002), que atuou de observador nas eleições como representante da OEA.
"Não é de se estranhar que um homem vinculado a um ex-ditador tenha ido correndo apoiar outro golpista", disse Linera, ao referir-se à época na qual Quiroga foi vice-presidente de Hugo Banzer --que dirigiu uma ditadura entre 1971 e 1978 e um governo constitucional entre 1997 e 2001.
Paraguai
O Paraguai também declarou publicamente nesta segunda-feira que não vai apoiar a eleição realizada em Honduras e voltou a repudiar a derrubada do presidente Manuel Zelaya.
"É impossível para o governo o reconhecimento dos resultados destas eleições nas condições em que foram realizadas", disse o ministro de Justiça e Trabalho, Humberto Blasco.
Blasco afirmou ainda que "o governo golpista imposto em Honduras deixou o estado de direito vulnerável e violentou as entidades democráticas e constitucionalmente instituídas através da expressão da vontade popular".
O governo paraguaio lamentou ainda que não os hondurenhos não tenham conseguido "uma saída dialogada e pacífica à crise hondurenha apesar das intenções da comunidade internacional".