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Domingo, 28 de abril de 2024

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Produtora que comprou fogos admite que não tinha autorização e conta como reagiu ao incêndio

Foto: Marcelo Sayão/EFE

Produtora que comprou fogos admite que não tinha autorização e conta como reagiu ao incêndio
A produtora da banda Gurizada Fandangueira foi quem comprou os fogos de artifícios usados pela banda na noite do incêndio que matou 235 pessoas em Santa Maria (RS). Em depoimento à polícia, ela admitiu que o grupo não tinha autorização para utilizá-los, contou como funcionavam os fogos e disse que chegou a tentar apagar o início do incêndio com uma garrafa d’água. ÉPOCA obteve acesso, com exclusividade, a três dos principais depoimentos colhidos pela Polícia Civil para esclarecer as causas e as circunstâncias da tragédia da boate Kiss, na madrugada de domingo, 27. Além das declarações da produtora, os depoimentos de um segurança da boate e de um barman são considerados pela polícia como algumas das mais valiosas peças do inquérito.


L.A.B.L., produtora musical da banda, disse ter deixado preparados, nas laterais do palco, dois “fogos gelados” – espécie de fogo de artifício que não queima – ligados por um sensor que ficaria sob sua responsabilidade. O espetáculo começou, segundo ela, às 2h, e esses fogos foram acionados. Tudo corria bem até 2h45. Nesse momento, L.A.B.L., por meio do sensor, acionou um outro tipo de fogo, “também gelado, sem queima, que fica na mão de Marcelo, o principal vocalista da banda”, disse a produtora à polícia. Para uso desse artifício, o vocalista usa uma luva “tipo tensor, semelhante àquelas usadas quando se está com tendinite”. O vocalista acionou o dispositivo, o que acontece quando ele “levanta o braço a frente, como se fosse um disparo”. Uns três minutos depois, o percussionista Márcio avisou L.A.B.L. que havia fogo no teto. Ela disse ter olhado para o teto e visto que “se tratava de uma pequena circunferência de fogo, com diâmetro menor que de um CD”.

A produtora declarou ter atirado a garrafa d`água que estava bebendo sobre aquele pequeno ponto de fogo e pedido que alguém pegasse o extintor. Quando alcançaram o equipamento, “o vocalista tentou utilizá-lo, mas o extintor não funcionou”. O fogo começou a se alastrar pela boate. Ela foi desconectando os cabos dos instrumentos e mandando que todos saíssem. O pânico se alastrava. As pessoas corriam. Quando ela chegou à porta da boate deparou-se com um ferro, utilizado antes da porta, para fazer um corredor até o caixa. Precisou se atirar sobre o ferro, caindo no chão, no corredor. Segundo ela, o teto é revestido de esponja e, bem no meio, onde o vocalista estava posicionado, existe um duto de ar, que faz a circulação do ar condicionado.

L.A.B L. era quem comprava os fogos de artifício usados pela banda. “Às vezes pela internet, outras vezes em lojas”, disse à polícia. Ela afirmou que “não tinham autorização para o uso dos fogos de artifício e nem tampouco sabia se isso seria necessário, até porque, sempre viam as garrafas de champagne no estabelecimento serem servidas com aquele dispositivo pirotécnico”. A produtora se disse preocupada por achar que o fogo começou a partir do uso do dispositivo (ao contrário do que afirmaram diversos membros da banda a polícia). Segundo ela, o dispositivo na mão do vocalista é semelhante a uma vela. Ele fica ativo por cerca de 15 segundos. Esse fogo foi adquirido na loja Kabum, na Avenida Presidente Vargas, em Santa Maria. Ela acredita que a mão do vocalista estava a cerca de 1 metro do teto quando ele acionou o fogo.

A produtora ainda disse que “não prestou atenção se a porta estava aberta quando começou o tumulto, mas que há uma ante-porta que acredita que não estava aberta, pois ouvia pessoas gritando”. Ela acredita que havia 1,5 mil pessoas dentro da boate naquela noite.

O barman E. P. G. trabalha na boate Kiss há três anos. Segundo seu depoimento à polícia, a luva de cor preta na mão esquerda do vocalista tinha um “objeto incandescente”, que ele ergueu para o alto. “Esse objeto emitiu uma faísca com tamanho aproximado de 50 centímetros. A faísca atingiu o material de isolamento acústico do teto que consistia em uma espécie de esponja que começou a incendiar rapidamente”, disse. E. P. G. afirmou que começou a gritar, apontando para o local do incêndio. O vocalista da banda teria pegado o extintor, mas não conseguia acioná-lo. O barman foi até o balcão, onde havia um outro extintor, mas não conseguia se aproximar do palco, devido à fumaça preta e o tumulto. Começou, então, a ajudar as pessoas a sair do interior da boate. E.P.G. afirmou ter ajudado 24 pessoas. “O tumulto e o desespero foram muito grandes com as pessoas se aglomerando na porta da saída, sendo que havia muitas se empurrando, outras caídas no chão sendo pisoteadas, se arrastando, desesperadas para saírem da boate”.

Quanto à estrutura da boate, afirmou que não havia alternativa alguma a não ser a porta principal para evacuar o ambiente em caso de emergência. “Nem portas, nem janelas”, disse. A porta seria composta por duas divisórias “com tamanho em torno de 4 metros e outra em torno de um metro e meio”. Segundo ele, no início do incêndio, os seguranças da boate, “por cerca de 5 segundos, proibiram algumas pessoas de deixar o local achando que tratava-se de alguma briga, mas assim que constataram que havia fumaça, abriram as portas e ajudaram as pessoas a sair”. Ele nega ter havido demora na liberação da passagem dos clientes, pelos seguranças. Reiterou em seu depoimento que “tem absoluta certeza que foi cerca de 5 segundos após o tumulto”, referindo-se à liberação da saída.

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Segundo ele, havia cerca de sete extintores na boate, e que tanto ele como os seguranças sabiam usá-los. Os extintores haviam sido trocados a pedido de um dos sócios e administrador da boate, Elissando Spohr, há três meses. “Eram novos”, disse E.P.G, que os trocou. Os bombeiros, segundo ele, demoraram cerca de dez minutos para chegar ao local. Ao contrário do que disse a produtora da banda, o barman disse que entre o momento que o cantor levantou a mão e o inicio da dissipação do fogo passaram-se apenas dez segundos. “O fogo se alastrou no teto, não desceu em momento algum para as paredes, e foi a fumaça que vitimou as pessoas”.

R.C.T. trabalha nos finais de semana como segurança para complementar sua renda. Naquela noite, fazia a segurança no interior da boate Kiss, em sua área VIP. Disse à polícia que nunca recebeu instrução na firma de segurança ou na boate sobre como manipular os extintores de incêndio do local e que só tem conhecimento sobre os aparelhos devido ao seu trabalho durante a semana, como auxiliar de serviços gerais.
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